A filha de D. Canô veio mais uma vez fazer um concerto ao coliseu dos recreios de Lisboa. Para cantar o mar, os seres do mar, os homens e as mulheres do mar. Mas também dos rios, dos lagos. Para falar do Amazonas e da Amazónia. Para dizer poesia como só ela sabe. Para pôr um povo triste, de pé a dançar ao som do samba, como se toda a vida tivesse vivido com o samba. Mas também para falar de Alfama virada para o Tejo e dos marinheiros portugueses. E das descobertas. E dos descobrimentos.
Um concerto inesquecível. Tal como o vinho do Porto, Betânia só melhora. Porque a sua voz continua magnífica e inigualável. E ela tem muitos anos de estrada. Hoje é uma profissional de alto gabarito. De mau génio diz-se. Mas a verdade é que ficando sem som, chamou o técnico e quando recuperou o som, pegou na canção que interrompera no ponto exacto em que tinha ficado. Com uma classe só possível a quem sabe muito bem o que está a fazer.
Gostei do cenário pela sua simplicidade. Maria não precisa de mais do que umas nuvens por trás, batidas por luzes de diferentes cores.
Gostei do guarda roupa da primeira parte e detestei o da segunda. Mas logo que ela recomeçou a cantar esqueci. Porque ouvindo-a a gente esquece tudo. Esquece até da vida.
Ouvindo Maria Betânia, ela deixa de ser uma mulher feia para ser apenas uma mulher plena que nasceu para cantar e dar cor à vida de todos os que se dão ao trabalho de a escutar. Com a devida atenção.
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