12 maio, 2007

Todos os dias da minha vida.

Não gosto de fazer as refeições sozinho. Agora que eu e a minha mulher nos estamos a separar, tenho que arranjar companhia sempre para o almoço e o jantar. Se fizer as refeições a sós como muito mais. Preciso que alguém me distraia. Sábado é fácil arranjar companhia. Toda a gente está mais disponível.
Almocei com uma das minhas amigas. Gosto dela. Mais do que devia. Sempre foi assim. Ela ri quando falo disto. Muita gente sabe tanto quanto eu. Agora que estou só de novo, já me vêm casado com esta minha amiga. E ela ri. Ri de mim, ri dos outros, ri do mundo, ri da vida. E quanto mais ela ri mais eu me encanto com ela... mas hoje ela fez a despesa da conversa. Não me apetece falar. Não me apetece sequer ouvir. Olho-a mas não a ouço. Vejo os lábios que se mexem continuamente, penso que há-de sair algum som dali mas eu não ouço. Contemplo-a apenas.
Não. Não gosto de almoçar sozinho. Já almocei com putas e com mendigos: para não almoçar sozinho. Eles ganharam uma refeição, eu ganhei companhia. De alguns ouvi as estórias de outros não. Depende do lado para onde acordo. Se a minha ex me telefona tenho o dia estragado. Apetece-me fugir... mas não posso: preciso de companhia para almoçar.
Quando me despeço da minha amiga, faço a marginal devagar. A marginal é inspiradora, assim, coberta de sol e miúdas com calções curtos que mostram as bochechas do rabo. Fico-me pelos olhares. A minha libido não é despertada. Está como eu. Só.
Gostava de ser como a minha amiga e brincar com tudo e de tudo. Mas só o consigo parcialmente e apenas quando estou com ela. Levei a vida demasiado a sério. Disse ela. É verdade. O que não vivi não posso recuperar. Foi ela que o disse. Penso: é verdade. Por mais que corra, hoje, não posso emendar, remendar... Só posso como ela diz, começar de novo, dia a dia, todos os dias da minha vida... todos os dias da minha vida. Quantos serão?

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