26 maio, 2007

Isto não é um conto de fadas

Arlinda (nome fictício) é uma miúda com uma vontade de viver fantástica. Nascida com uma deficiência que a faz viver como cega à luz do dia e num mundo onde tudo o que faz parte da vida laboral se processa durante o dia, tirou uma licenciatura e mais tarde fez o Erasmus, um mestrado, e uma pós graduação em Itália. Arlinda gosta de dançar, de andar de mota a alta velocidade, mas também de ler, estudar... viver.
Estava feliz agora. Tinha encontrado em Paolo (nome fictício) o homem da sua vida, como ela mesmo dizia. Tinham-se conhecido há uns anos quando ele, regressado de uma missão como voluntário em África, retomara os estudos em Itália. No seu retorno a Itália Arlinda reencontrou-o e descobriu-se apaixonada por ele. Amor correspondido, tudo certo como dois e dois são quatro.
Deitaram contas à vida: a viverem em cidades separadas era ela que se deslocava quase sempre para estar com ele ao fim de semana. A cidade onde vive é mais sombria que Roma, portanto mais fácil para ela de viver. Mas nada disso importava. Na próxima semana mudava-se de armas e bagagens para o apartamento que ambos tinham alugado para começarem uma vida a dois. Não haveria casamento nem tal seria necessário. A notícia tinha sido comunicada aos pais de cada um e todos estavam felizes, sem se conhecerem, mas percebendo que o que os juntava era um laço de tal modo forte que só podia deixar toda a gente feliz. Apesar de os pais de Paolo serem profundamente católicos, não parecia que o facto de não haver casamento mudasse algo. O filho estava feliz, logo estava tudo bem...
Só que ás vezes dois e dois passam a ser cinco. Há 3 dias Arminda foi acordada por um telefonema que lhe dava conta da morte imediata de Paolo, em Roma, numa acidente em que embateu com um táxi pela meia noite. Morte imediata. Foi esta notícia que Arminda recebeu, quando a sua vida lhe sorria mais do que nunca.
Dispensou a presença da família em Roma. Diz que o momento é dela e da família dele. Eu tenho vontade de chorar as lágrimas que ela guarda. Que guardará por quanto tempo?
Aos 23 anos... é muito cedo para ter um desgosto desta dimensão. É muito cedo para ter conhecido o homem que amaria pelo resto da sua vida... vai ficar para sempre a dúvida. Mas a verdade é que seria eterno, enquanto durasse. E agora?
Agora Arminda hás-de dar a volta por cima com essa alegria de viver que tens. Hás-de encontrar outro herói para viver a vida ao teu lado ou saberás segui-la a sós, porque os heróis afinal também morrem. A vida não é mesmo um conto de fadas!

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