13 maio, 2007

E se acordas?

Rodo, rodo pela estrada. Mudo de caminho, mudo de rota. Levei o dia nisto. Adio a hora de entrar em casa. Eu que sempre achei que o melhor lugar para estar é a minha casa! Vou rodar mais umas horas. Tentar entrar pela calada da noite. Tentar chegar quando já estejas a dormir. Será que te deitas sem que eu chegue ou vais teimar nessa mania de me esperares acordado? É que deixou de fazer sentido percebes? Deixou de fazer sentido como todos os gestos, todas as palavras que existiam quando pensávamos que nos amávamos. Quando pensávamos que ficaríamos, para sempre juntos. Que envelheceríamos juntos...
Há quanto tempo foi isso? Há quanto tempo deixámos de dizer "meu amor" com ternura, quando estávamos apenas os dois? Há quanto tempo? Foi há tanto tempo que já não me recordo... Olho para trás e tudo o que vejo é a violência que foi crescendo, crescendo... as agressões físicas e verbais a que nos dedicámos por tantos anos... que nos faziam ficar juntos. Depois aquela tua tentativa de me deixares há 10 anos... tens razão sabes? Eu já não te amava, mas não podia deixar que as pessoas percebessem que eu tinha sido "largada"... foi uma questão de dignidade, fazer com que voltasses. Usei as crianças bem sabes. Elas deixaram-se usar. Manipulei de tal maneira que voltaste arrependido e grato como um cão abandonado. Mas depressa a violência recomeçou. Porque não havia amor. Só agora percebo isso. Só comecei a admitir que podia ser diferente quando vi uma amiga minha feliz por estar só. Recusando-se a partilhar a sua vida com outra pessoa a tempo inteiro. Percebi que ela tinha recuperado a alegria de viver. Que rejuvenescia todos os dias. Que não ficava, como eu, no emprego a adiar a hora de sair, de voltar para casa, sob o pretexto de ter muito trabalho... via-a sair para estar com amigos, ou fazer caminhadas pela cidade a sós... partir de férias sem ter que se preocupar com mais ninguém.
E eu que pensava que era incapaz de viver sozinha, dizia-lhe... ela ria e dizia "é pena, mas cada um é como é!" Finalmente a violência verbal é tão grande que eu só quero não ter que olhar para ti... se não saíres de casa dentro de dois dias, saio eu.
Não posso continuar a rodar eternamente à espera que adormeças... e se acordas quando eu entrar?

Sem comentários: