Sento-me à janela na carruagem do metro, do lado do cais. Abro a mala e preparo-me para continuar com a leitura de "Máscaras de Salazar". O livro não me surpreende. Quero com isto dizer que ao fim das primeiras cem páginas, continuo a ter mesma imagem de Salazar: um provinciano sinistro. Há relatos interessantes no livro e eu estou realmente absorta do que se passa à minha volta.
Sem que me tenha apercebido, a carruagem encheu e o metro arranca. Cinco ou seis paragens depois sinto um vulto enorme a cair-me em cima: encolho-me contra a janela. Não confundo em momento algum realidade e ficção: o vulto não é nada parecido com o provinciano descrito nas páginas que vou lendo. São pouco mais que 8 horas da manhã. A rapariga sentada ao meu lado adormeceu e desabou-me em cima. Acontece que ela não é apenas uma rapariga forte. É sem dúvida uma rapariga obesa. Continua adormecida e eu quase sufoco: à minha volta as pessoas sorriem. Mas ninguém faz nada para me aliviar daquele peso. Por fim consigo acordá-la com uma cotovelada. Pede desculpa, endireita-se no banco e passados 2 segundos adormece de novo. Felizmente desta vez não me tomba em cima. Fica antes naquela de caio para esquerda ou para a direita, dos brevemente adormecidos...
Retomo a leitura sempre com um "olho" na rapariga.
De regresso a casa, tento concentrar-me na leitura e desligar-me da tagarelice em voz muito alta de duas adolescentes norte-americanas que arrastam aquele inglês horrível que usam por lá. Subo o volume do MP3 para me desligar da tagarelice mas em vão. Fecho o livro e penso como pode uma língua ser usada de formas tão diferentes. E penso como gosto do britânico "english" e como detesto este linguajar que ouço e que me impede a concentração no livro.
Quando as adolescentes desaparecem é a minha vez de, finalmente adormecer.
Boa noite.
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