15 maio, 2007

AS PALAVRAS SEMPRE AS PALAVRAS


Estou cansado das palavras,
Não me dou com as palavras!
Eu, que tanto gosto das palavras!
Acho que são mal usadas.
É esta a explicação.
São como as balas, ou as setas, ou as pedras,
Nas mãos indevidas de assassinos,
Ou levianas de malteses.
Amando as palavras, estou cansado das palavras
Desiludido
Infeliz
Furioso
Por causa das palavras .
E quando isso me acontece,
E acontece-me desde que as descobri,
Ou foram elas que me descobriram,
O que há a fazer...
É partir,
Afastar-me sem ser notado ,
Para o país rival das palavras,
Onde se ouve o vento,
Mil vezes ouvir o vento,
As rãs no sol poente,
Os grilos,
As cigarras,
O mar,
Sempre o mar,
O farfalhar das folhas,
O zumbido das abelhas,
No reino onde te encontro, sim, despida de palavras,
Onde elas já não são necessárias.
É o país da festa do silêncio!
Mas quem fala aí por nós, quem,
Se somos os mesmos que por causa das palavras
Quase nos batémos,
Quase nos odiámos?
Quem hahita aí, amor?
E quem por nós fala?
Que palavra aí habita?

Eduardo Aleixo

1 comentário:

Anónimo disse...

Quase me fazes chorar!

Marit Soderman