02 março, 2007

Só preciso de um pouco de tempo.


Quando eu te disse que não aguentava perder mais ninguém, deves ter pensado que, mais uma vez estava a brincar. Como muitas das vezes em que ficavas a olhar para mim com o ar "esta está a falar a sério ou a gozar-me?". E então eu fazia a careta respectiva e tu sabias se era a sério ou a brincar. Era mais fácil entender-mo-nos pelo olhar. Isso é verdade. Acontece com muitas das minhas amigas. Lêem-me o pensamento.
Os homens é claro que são incapazes de ler (o pensamento, claro). Aliás há muito poucos homens capazes sequer de ler palavras, quanto mais agora de lerem pensamentos. Essa é uma característica do feminino. E embora todos saibamos que em ambos os sexos existe uma dose do sexo oposto, maior ou menor, os homens (na generalidade), recusam-se a aceitar este facto. Eles são completamente machos. É por isso que acham as mulheres complicadas. Porque não são capazes de as lerem, de as decifrarem, embora elas estejam ali, prontinhas a ser lidas com palavras simples, palavras de todos os dias. Mas eles recusam-se. Isso implica algum trabalho extra, puxar pela cabeça, etc., etc. É demasiado para eles, que andam cansados das lides do dia a dia e da leitura da Bola.
Voltando ao ponto, que é o que importa e eu começo querendo falar de uma coisa e acabo falando de tudo menos do que geralmente aqui me traz: eu avisei-te que não aguentava perder mais ninguém. Mas tu deves ter achado que era brincadeira, uma daquelas que eu gosto de ter de mau gosto... não era!
A verdade é que não estou a aguentar... a verdade é que o coração não me obedece. A verdade é que a única solução que vejo é partir para África. Não há medicamentos para a dor, não há remédio para a saudade, não há pílulas que me façam aguentar ver as crianças sofrerem... Não há remédio. Há umas panaceias que me podem ir aguentando por uns tempos, mas só a verdadeira infelicidade, a desgraça verdadeira, a miséria fora dos retratos pode curar-me deste mal. Eu sei que pode parecer ridículo, mas é verdade. Tudo o que me rodeia não é nada senão uma misera amostra do que se passa no mundo real. E o mundo real não está nesta velha europa que cada vez usa mais pó de arroz para disfarçar uma velhice que não tem retorno. Não há plástica que estique o rosto desta velha senhora. E ela não aguenta as rugas... ela é daquelas que quer parecer moderna à viva força, mas não sabe que a modernidade está por dentro de nós e não por fora.
"Tenho menos idade do que o meu corpo aparenta". Não me lembro quem disse isto, mas acho que foi um velho francês. Acho que escritor que é quem eu costumo lembrar... Eu também tenho menos idade do que o meu corpo aparenta. É por isso que não aguento a claustrofobia europeia, os bons costumes europeus, o viver de aparências desta velha senhora...
Estou farta. Estou cansada. O meu coração cansou-se. Diz-me a toda a hora que quer partir, quer viver uma vida real e não estas guerrilhas diárias de bastidores. E é isso que eu vou fazer... se o meu coração me der o tempo de que necessito!

2 comentários:

Unknown disse...

Não me revejo no teu retrato sobre os homens.
Quanto ao resto, compreendo e sou solidário.

fatimamedeiros disse...

Desabafo
Estes últimos anos foram muito maus para mim, pese embora ter vivido alguns bons momentos. No entanto, o ano passado foi pior do que os anteriores e eu que pensava que este ano iria ser melhor (afinal todos fazemos votos no último dia do ano para um ano melhor), tem sido muito mau.
Eu sempre sobrevi à vida dificílima que tive ao longo dos anos graças ao nascimento da minha filha, a algumas pessoas que se foram cruzando comigo ao longo do tempo e graças à minha actividade profissonal que adorava. Nos quase 20 anos que trabelhei no HSM adorei começarmos do zero e montarmos uma estrutura que ainda hoje se mantém, tínhamos um ambiente fantástico, conheci pessoas incríveis com quem mantenho uma grande amizade e de quem tenho muitas saudades e fazia um trabalho que gostava muitíssimo.
Quando saí, abracei este projecto com a seriedade com que encaro todos os desafios e até gosto (não tanto, confesso), gosto muito dos meus colegas e adorava a minha chefe (a sua competência, as suas qualidades humanas, a forma como geria a equipa, o cuidado com que nos tratava, uma grande amiga) e sem pré-aviso deixou-nos na mais profunda depressão colectiva (expressão da Paula). Nós não estamos a recuper, não estamos a conseguir ultrapssar esta situação, estamos muito abalados.
Não é segredo para ninguém que GOSTO MUITO de ti, da Lena, da Paula, da Cila, do Eduardo, do Carlos, da Odete, da Carla, da Teresa, de quase todos. Preciso de todos e de cada um.
Tenho tantos problemas... Soube ontem que vou ser avó (postiça) mas avó, pois fui mãe desta minha sobrinha como dos irmãos e continuo a ser, apesar dos pais estarem vivos...