Estive a ler os textos escritos pela Eduarda, durante a minha ausência. Dou - lhe de crédito a circunstância de ter estado em baixo de forma. Quanto a mim, ela sabe que não sou calão. Tenho tido azar com a Internet, que os serviços do Prontex do Sócrates ainda não me conseguiram instalar! Ando nisto há quase um mês. Claro que tenho saudades deste espaço. Claro que compreendo que não é justo uma rapariga tão trabalhadora ficar assim tão sobrecarregada. Mas ela sabia que eu sou alentejano maltês. Que tanto estou debaixo do chaparro, como no deserto, ou nos jardins do Oriente, onde deixei um pouco da minha alma.Além de tudo o mais, não tenho estado sempre no país.
Regressei há dias de Barcelona.E deixem-me já informar, antes que me esqueça, que fiquei ainda mais cativo daquele espaço de liberdade, de irreverência e de alegria. Mas o que me deixou completamente emocionado foi ter encontrado um velho amigo, que não via há tantos anos. Tinha acabado de mandar vir uma cerveja, naquele bar, à noite, não muito longe da rambla movimentada, quando o vi: corpo magro, alto, barba grisalha, óculos escuros, sorriso aberto, parado em frente da minha mesa, os braços abertos:
- Meu chaparrito querido, que fazes por aqui?
- Não posso crer, Amaro, não é possível...
Mas era. Contou-me uma longa estória. O que este homem não amou e sofreu desde que o deixei de ver na praia do Carvalhal, onde me ensinou tudo o que sei sobre os peixes e o mar! Eu estava suspenso, boquiaberto dos seus lábios, dos seus olhos quentes e expressivos:
- Depois da Patagónia e do Chile, voltei ao Carvalhal, onde estive pouco tempo e depois, olha, por aqui me tenho ficado, com saudades, sim, de tudo, dos amigos, da Stela, que deve estar muito zangada comigo por nada lhe dizer há mais de um ano...Se a vires, diz-lhe...Ou melhor, não lhe digas nada...
Claro que estou a dizer. A Stela lê o blogue. É nossa amiga comum, há muitos anos...
Sobre os episódios dessa noite em Barcelona, ainda havemos de falar.
Mas regressei a Portugal.
E fui direitinho a Mártola, minha terra natal.Porque nesta altura é quando o Alentejo está bonito. Andei pelos campos. Que embora não tenham muitas túberas este ano por falta da água das chuvas, que não tem havido, estão no entanto obertos de flores brancas das estevas, dos malmequeres e dos gaimões. As mimosas mostram os seus seios amarelos. Pelos campos os borreguinhos brancos são manchas aprazíveis de eternidade.
Antes de partir para Lisboa é obrigatório ir ao mercado, onde o meu amigo Muchilha me prepara os muges e os barbos e onde se podem ver as lampreias que nesta altura do ano sobem o rio para a desova. O mesmo acontece com outros peixes como o sável e a saboga.
Percorrendo as ruas a minha boca e os meus lábios não se cansam de dizer "bom dia " e quando não se diz " bom dia " é uma ofensa, pois todos se conhecem.
Enfim, Lisboa. Ontem, dia do pai. Obrigado, Rita pela tua lembrança. Gostei do teu poema. Não o publico aqui porque não te pedi autorização. Mas adorei o estudo numerológico kármico que me fizeste. Tens razão. Coincidência ou não, pois seguiste o livro da matéria, da autoria de Clara de Almeida, que a despeito de ser cientista se dedica a estas coisas, que nós também adoramos. Mas é verdade, sim , meu bem, que os números da minha vida têm sido o 9, o 1 e agora o 3. É verdade que tudo o que tenho conseguido é com muito esforço.É verdade ainda que acima de tudo o que quero é a criatividade e que na fase em que estou o que me interessa é ser eu próprio. Quanto às minhas vidas anteriores, tu sabes que é uma teoria atraente, mas sobre a qual ainda tenho algumas dúvidas.
Eduardo Aleixo
1 comentário:
A Stela não se zanga! Quando a Stela se zanga é para sempre. Como tudo na vida da Stela. Não é mulher de meios termos. Por isso a única coisa que a Stela não perdoa é a vossa ida a Barcelona sem darem cavaco!
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