13 março, 2007

Depoimento


Eis que desço
as mãos
os dedos nus

Eis que empunho
o vidro
pela face

Eis que te utilizo
e te
destruo

Eis que te construo
e te
desfaço

Eis o gume novo
desta
pedra

Eis a faca aberta
na
manhã

as árvores
ocultas
nas palavras

o couro - a violência
o trilho
a lã

Eis o linho bordado
numa cama
a linha na fímbria

da toalha
o fuso - o feltro
o fundo da memória

Eis a água
dita
como vã
depostos objectos
de batalha:
a tenda

a espada
a sela
a sede
a vela

Eis que deponho
aquilo
que me ganha

e que retomo
a seda com que visto
a faca da sede

com que rasgo
o rigor da calma
o rigor das pernas
o rigor dos seios
quando minto


(Maria Teresa Horta)

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