Sabes, amigo, tens-me andado atravessado.
Durante anos, comprei-te os livros. Todos. Começava a lê-los. Mas punha-os de lado.
Já escrevi no blogue sobre este meu conflito contigo. Não é bem um conflito contigo. Mas com a tua maneira de escrever. Mas eu sabia que tinha de ultrapassá-lo.
Lendo-te, e vendo a tua produtividade, e outras coisas da minha intuição, sempre soube que não podias ser um embuste. Os embustes em literatura não têm o teu rosto. E muito menos o teu estilo.
Por outro lado, eu sabia, à luz de experiências anteriores, que era uma questão de tempo, de esperar, de tentar, principalmente de tentar. Companheiro das letras e dos livros , desde que me conheço, sabia que tinha de descobrir a chave para entrar no teu mundo.
Em Dezembro, descobri a chave, entrei na tua casa e estou em condições de te dizer que venci as minhas barreiras e já posso ler os restantes.
Devo confessar, no entanto, que és um escritor difícil. A leitura dos teus livros não é para todos. Tu exiges muita atenção. Nenhuma distração. A tua prosa é poesia, da mais pura. É água que corre nos interstícios. Nunca vi coisa igual: não és tu que escreves. São as palavras que vão escrevendo, mas as palavras-seres- coisas, como se nem as palavras escrevessem, fossem as coisas e os seres a escreverem-se, e, no meio disto tudo, ou em cima disto tudo, como é que coordenas a acção, a diriges, que tensão-atenção não exigirá, mesmo com a tua experiência, escreveres um livro, em que tudo fala, o presente, o passado, os objectos, as pessoas, às vezes tudo ao mesmo tempo...
Sim, és um grande escritor. Claro que se põe, como já aqui escreveu a Eduarda, o problema da tradução. Porque o problema da tradução põe-se sempre para a linguagem poética. Não será por aí, no entanto, que o Nobel não te será atribuído. Deus queira que o ganhes. Porque mereces.
E desculpa lá a minha visita tardia às tuas instalações.É que elas estão muito escondidas.
Eduardo Aleixo
1 comentário:
Pois é Eduardo: mais vale tarde que nunca. Ainda bem que descobriste a chave para decifrares o António. Já viste bem o que terias perdido se tivesses desistido? Além de que desistir não é próprio de um escorpião! Para o António, claro, o meu amo-te demais, como sempre!
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