Dou por mim a pensar porque é que sou tão teimosa... porque é que não hei-de ser como toda a gente e acreditar em coisas sem que seja necessário darem-me explicações científicas ou lógicas para as coisas, grandes e pequenas, que governam as nossas vidas tão pequeninas? É que me dava jeito.
Dava-me jeito acreditar que existe um ser superior, chamado deus, ou alá, ou maomé, ou jesus, ou seja lá o que for, quando morre alguém que amo muito. Dava-me jeito. Seria mais simples conformar-me, e não tornar-me cada vez mais distante de tudo e de todos, porque não quero amar ninguém, porque tenho medo de perder mais alguém, porque às tantas estou tomada de pânico e não consigo viver como devia. Assim, demoro eternidades a reagir e só consigo gostar de alguém se sou apanhada desprevenida o que não é fácil, porque estou, cada vez mais "de pé atrás" como diz o povo, que tudo sabe, ou quase tudo, que para o caso vem a dar no mesmo.
Dava-me jeito também acreditar em bruxas. Amanhã ia à bruxa, ela fazia umas rezas e coisa e tal, se calhar dava-me um chá de cidreira para tomar e explicava-me que eu estou "carregada" (é assim que elas dizem, acho eu), que alguém está de "olho grande" em cima de mim, que sofro de "mal de inveja"... eu fazia as rezas, ela benzia-me eu tomava o chá e os azares acabavam-se e eu voltava à minha vida sossegadinha de sempre, com tempo para ver o sol nascer e morrer no horizonte, sobre o mar...
Mas porque é que eu hei-de continuar a ser assim tão teimosa?! Porque é que eu não aprendo a acreditar? Seria tudo tão mais fácil....
Se calhar é mesmo por isso: não acho graça nenhuma a coisas fáceis... Claro que só pode ser por isso.
1 comentário:
Como tudo na vida, essa maneira de estar no mundo tem a vantagem do lógico, do certo, do seguro, do científico, do...
Mas tem a desvantagem de passar ao lado de tudo o que a lógica e a ciência não explicam. E é muita coisa!
Claro que a ciência um dia há-de explicar, penso eu. Como hoje explica muita coisa que há dois séculos era considerada do mundo do bruxedo e da blasfémia.
Eu, por exemplo, sei de algumas coisas, verdadeiras, reais, que não passam pelo crivo das ciências oficiais.
No entanto, no meio é que está a virtude. Devemos duvidar, até da própria dúvida, como dizia Einstein. O que significa que devemos duvidar também de que todo o saber vem do que é visto, do que é lógico, do que é explicável...
A nossa civilização é binária: ou é o 1, ou o zero. Só que entre o zero e o 1 ...existe um espaço infinito. Entre o branco e o preto... há uma infinidade de cinzentos...E não me venha dizer a menina que não gosta das fotografias a preto e branco!..
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