Sei que muitos dos que me passam por aqui diariamente, estariam à espera que eu reagisse a esta vitória do SIM pela despenalização do aborto, com uma alegria desmesurada.
Na verdade esta vitória agrada-me porque vem acabar com a humilhação de milhares de mulheres que pelas mais variadas razões tiveram que recorrer ao aborto ao longo de todos estes anos, enfrentado, para além de condições de saúde e de higiene muito abaixo do que seria desejável, da culpa que certamente todas sentiram pelo que tinham que fazer, ainda a possibilidade de serem acusadas e enfrentarem um tribunal que se limitava sempre a aplicar a lei... porque, por muito que qualquer juiz compreenda as razões que levam uma mulher a esta situação extrema, ele terá, naturalmente que aplicar a lei. Ora, matando o bicho, acaba-se com a peçonha! E foi o que hoje se fez em Portugal.
Mas na verdade a minha alegria é bastante reduzida, porque uma taxa de abstenção como a que se verifica é, na minha óptica um fracasso. As pessoas demitem-se dos seus deveres de cidadania. Depois não se podem queixar do que quer que seja. Enquanto as pessoas não entenderem para que serve uma democracia, não exercerem o seu direito em democracia, não estaremos a falar de um país democrático. Estamos a falar e um país que continua à espera que o vizinho do lado resolva os nossos problemas. Ele que vote por nós, ele que faça greve por nós, ele que se empenhe na luta por nós. Porque os centros comerciais são mais atractivos que qualquer direito dos cidadãos... sinto, na verdade, uma tristeza imensa de viver neste país.
Espero que este SIM, obrigue o governo a tomar medidas que obriguem ao encerramento definitivo do mercado de abortadeiras que floresceu por este país fora, durante anos. Que gente que viveu e se alimentou da dor alheia, tenha que procurar um modo de vida decente. Que sejam criadas medidas de incentivo a que nasçam crianças em Portugal, com um futuro minimamente assegurado. Que sejam criadas medidas de incentivo e ajuda a mães solteiras e que estas não continuem a ser marginalizadas, mas antes, passem a ser ajudadas pela coragem de terem as suas crianças sem pai. Que os homens deste país compreendam que o aborto não é uma questão da mulher mas uma questão de quem participou na criação de uma vida. Que todas as crianças têm um pai e uma mãe, ainda que um deles não o queira ser... É preciso que os jovens compreendam que as namoradas não ficaram grávidas por obra e graça do espírito santo. Que eles são tão responsáveis quanto elas. Que não se continue a atirar a culpa da gravidez indesejada, só para cima das mulheres. Porque as mulheres são capazes de quase tudo nesta vida: mas não fazem filhos sózinhas... e se os pais se dmitem da responsabilidade, então o Estado que tome sobre si, parte dessa responsabilidade, porque também é culpado pelo desinteresse destes. É uma questão cívica, cultural e educacional. O Estado não pode, pura e simplesmente demititir-se das suas obrigações.
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