20 janeiro, 2007

Seria ridículo, se não fosse tão triste!



Nesta falésia que fotografei o mês passado, um homem, hoje, sentiu-se mal. Ontem tinha estado no Centro de Saúde de Odemira, onde foi examinado e enviado para casa. Esta manhã, estava nesta falésia e sentiu-se mal de novo.

É o terceiro caso em poucos dias ocorrido no concelho de Odemira e a segunda morte. Um dos casos encontra-se em coma induzido, depois de ter sofrido um acidente em casa e ter ficado com uma grande parte do corpo queimado. Depois de ter sido transportado para o hospital de Beja, a mais de 100 km da sua residência, foi levado para o hospital de S. José em Lisboa, pois Beja não tem unidade de queimados. O INEM não sabia que Beja não tinha recursos para cuidar do acidentado? É estranho. Muito estranho... que num país tão pequeno quanto o nosso, alguém tenha que esperar 9 (nove!) horas para ser convenientemente assistido.

O senhor Correia de Campos, não abre inquéritos. Na verdade faz bem. Ele sabe que não se pode culpar ninguém das culpas do governo. Ele sabe que os profissionais fazem o que está nos manuais. Cumprem com as regras que lhes são impostas. Portanto, inquirir o quê? Para quê? Todos sabemos que não faz sentido, que as pessoas que vivem num concelho que se encontra muito mais próximo dos hospitais do Algarve tenham que ser levadas para Beja por estradas que nem sempre são das melhores.

Eu mesma fiz há pouco mais de um mês o percurso Odemira / Beja e sei do que estou a falar. Quando disse à senhora que me atendia na pousada do Cerro da Nave Redonda que tinha estado em Beja, ela olhou para mim com um ar de espanto. Como quem diz: quem quer ir a Beja? Intrigada com a expressão facial dela, perguntei porque se espantava e ela respondeu-me: "é que nós aqui, só vamos a Beja, quando é preciso ir ao hospital, porque não nos atendem no Algarve que fica a meia hora de viagem; só vamos a Beja por maus motivos, é por isso que não gostamos de lá ir".

É portanto uma questão burocrática. As parturientes de Elvas (portuguesas) podem ter os seus bebés em Badajoz (Espanha), mas os alentejanos (Portugueses) não podem ser atendidos no Algarve (Portugal)...

Ridículo, não é?

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