07 janeiro, 2007

É só mais um desabafo... que stress!


Este é o meu irmão há 50 anos. É o meu irmão hoje. Continua o mesmo menino. Bem sei que está mais crescidinho (não muito), tem barba e bigode e o cabelo descuidado como os árabes. Mas por dentro continua a ser o menino que desaparecia dias inteiros do grande hotel da Huíla aonde os meus pais viviam e onde ele nasceu.
Quando a minha mãe se distraía por dois minutos já ele estava na boleia de um camião, fazendo companhia aos motoristas. É verdade, realmente nenhum de nós dois deu uma vida fácil à minha mãe (o meu pai até achava piada e a gente até percebia que ele nos incentivava à aventura com o seu silêncio, enquanto ela ralhava connosco), mas ele era o rapazinho das grandes ideias. Aquele que não se sabia nunca o que faria a seguir, o que liderava as brincadeiras perigosas, o que chumbava anos por faltas para ir jogar matraquilhos ou inventar coisas para afligir a vizinhança. Era um líder que arranjava sempre maneira de escapar ao castigo. Havia sempre quem pagasse as favas por ele. Hoje continua a ser assim.
Ainda há pouco estava pronta para o levar ao aeroporto e quando devia estar cá em casa para o levar telefonou-me a dizer "olha desculpa lá, mas eu ainda tenho muito que fazer por cá, só vou amanhã". Assim, sem mais nem menos. Ah... ainda me perguntou se sabia o número de telefone de mulher dele, para poder avisá-la.
É assim o meu irmão. Com ele nunca se sabe o que vai surgir a seguir. Com ele não se pode programar coisa nenhuma: à última da hora surge sempre alguma coisa e baralha o jogo para dar de novo.
Bem sei que devia estar habituada. Mas não estou. Não sou capaz de me habituar. Eu também tomo decisões em cima da hora, mas nunca quando elas implicam mudanças na vida de terceiros. Adoro o meu irmão, mas seria incapaz de viver com ele. Mesmo perto dele, servindo-lhe de bengala como diz a Paula é difícil. São as únicas alturas em que sinto o que é aquilo a que as pessoas chamam de "stress"... Desculpem lá o desabafo. Mas com quem é que hei-de contar senão com os meus amigos?

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