27 janeiro, 2007

O vendedor de bugigangas e o frio.



O frio continua e é nele que eu penso. No sem abrigo aqui ao lado que, no pico do Verão se me apresentou de fato completo e me convidou para tomar um café. Depois disso só o vi de relance uma vez. De vez em quando pergunto-me o que será feito dele e tento sossegar-me pensando que anda a vender as suas bugigangas por outros lados que eu não frequento... mas agora, com o frio que tem feito, tenho pensado muito nele. Como é que um homem daquela idade e sem abrigo há-de sobreviver a estas noites geladas? Será que alguém lhe deu um abrigo, pelo menos por estes dias? Será que está bem de saúde? Ou será que já partiu? E eu que nem sequer lhe perguntei o nome! Só mesmo da minha cabeça esquecer algo tão importante quanto saber o nome de alguém que de algum modo me tocou. Que me tocou fundo... bem fundo!

Tenho que saber deste homem, mas como? A sensação com que fiquei é que é um tipo orgulhoso que não aceita qualquer tipo de humilhação... e para este homem receber uma esmola é, definitivamente uma humilhação. Ele faz questão de ganhar a vida. É um sem abrigo sim, mas tem uma profissão, tão digna quanto qualquer outra: vendedor de bugigangas.

Tomara que volte a encontrá-lo de boa saúde, para lhe perguntar o nome e dar-lhe uma quantidade de "Selecções do Reader's Digest" que tenho guardado para ele. Se o virem por aí, digam-lhe que o espero na "linha verde" ou na "linha de Cascais", por favor.

1 comentário:

Unknown disse...

É um assunto sensível para mim, como sabes.
Sensibiliza-me que o trates com tanta sensibilidade.
Deus queira que o encontres. Ou melhor, desculpa, que não o encontres, e que isso signifique que ele já não seja um sem abrigo, e que esteja, ou com a família, ou com amigos, ou numa instituição, ou com alguém, pronto.