Foi há uns anos que conheci Manuel (nome fictício). Durante cerca de dois anos trabalhámos juntos uma vez por semana. Não estabelecemos exactamente uma amizade, mas ficámos próximos disso. Entre nós havia a cumplicidade das estórias de infância de cada um, das felicidades e infelicidades que por essa altura nos atingiram, das adolescências vividas de forma tão diferente... mas havia sobretudo a cumplicidade gerada pelos livros. O pai de Manuel era jornalista num pequeno jornal de província e ele tem, como eu, o gosto da leitura. E tem também um amor imenso por uma terra que me viu crescer e onde ele cumpriu o serviço militar.
Manuel é um homem bem educado, mas sem papas na língua. É um homem que não se vende. É um homem branco. Não é um homem de cor (espero que ninguém tenha esquecido do que aqui há dias foi escrito, neste mesmo espaço, sobre os homens e mulheres de cor... de cor duvidosa!e não venha alguém acusar-me de racismo). Tenho amigos brancos e pretos. Os de cor não me servem como amigos, porque não consigo nutrir por eles o mínimo respeito.
Voltando ao meu Manuel: deve ser um dos últimos mosqueteiros. Não sei se ficou traumatizado pela guerra que fez em Angola. Mas sei que não pode ver uma senhora ser importunada por um badameco qualquer que não lhe pregue imediatamente um murro na cara, (ao badameco, é claro!) E se sei disto, não é porque ele o tenha contado alguma vez. O seu pudor não o deixaria expôr a sua valentia dessa maneira. Mas sei que é assim. Sei que já aconteceu mais do que uma vez. E sei que voltará a acontecer sempre que ele achar que deve ser assim.
Acontece que Manuel me apareceu hoje e estivemos à conversa durante mais de uma hora. Soube que eu estava triste e procurou-me... não sabe que o que me contou me deixou ainda mais triste. Mas a verdade é assim: às vezes dói muito e é por isso que tanta gente se esconde dela...
Seja como for, foi bom reviver os tempos em que passávamos juntos um dia por semana, trabalhando e jogando conversa fora como dois companheiros de longa data!
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