De vez em quando parto, e quando digo parto, diria melhor regresso às minhas origens, posso mesmo dizer às nossas origens de seres humanos, que antes de serem seres culturais, sociais, políticos, planetários, são, como bem explica o sociólogo Edgar Morin, na sua obra monumental, " O Método ", seres que pertencem ao mundo da Física, somos átomos, moléculas, protões, neutrões, e cada vez coisas mais pequenas, que a Física Quântica enumera, e esclarece, aqui, onde o infinitamente pequeno é igual ao infinitamente grande, aqui, onde somos como as estrelas, por isso costumo dizeer, em linguagem poética, para quem me conhece, que sou filho das estrelas, aqui, onde tudo começa, permanece, muda, se vai desvendando, a matéria vai casando com o espírito,se mostrando à medida que a ciência positiva vai avançando, mas que os místicos sabem há muito, e a filosofia oriental também, e o budismo tibetano também, para aqui parto pois, de vez em quando, diria melhor regresso, a carregar as baterias, aqui é também o espaço da folha branca que fascina os escritores e poetas, o ventre da mãe terra, o princípio do mundo, o espírito de Tao, que a ciência há-de um dia encontrar, a fonte original de todas as energias, para aqui regresso de vez em quando, quando parto e deixo os meus amigos, que ainda não me conhecem bem, surpresos, face ao meu inopinado silêncio...
Em silêncio fico, de facto. E como sou muito falador ( fingidor, dentro de certa lógica das coisas ), os amigos estranham e até podem pensar que estou ressentido por qualquer coisa que se põem a imaginar. Pois tirem daí a ideia.Quando deixar de botar discurso, de revelar os meus sonhos e de dialogar convosco sobre os problemas do mundo, já sabem ( a não ser que esteja doente )...: parti no dorso do meu irmão vento rumo às estrelas. Os amigos mais íntimos, esses já sabem que estou em meditação em Orion. Onde o que se passa é indizível. Ali, reina um slênciio amoroso.Todo feito de harmonia. Música de búzio. Brisa nos canaviais. Beijos de mar. Carícias que só usamos cá na terra quando amamos sem egoísmo, num convívio sem guerras, nem invejas.
Mas... é-me sempre dito que tenho de regressar, isto é, de partir, de novo, para junto dos meus amigos mortais. E então eu volto. Num ápice, volto. Atravesso paisagens que não sei descrever.Distâncias vertiginosas como aquelas que me surgem em sonho.Mas é tudo muito rápido.A princípio, uma cor leitosa, como a cor da madrugada, depois o sol de fogo ilumina o azul do firmamento, depois o cinzento das nuvens, o ar em movimento, águas com navios em azul ondulante sem fim, areias com dunas, camelos, palmeiras,aldeias, o fumo a subir das chaminés, a presença dos meus irmãos, de vocês, que alegria, as marcas da paisagem,os burros, os ciganos que vão em fila para as feiras, os olhos negros e quentes e as ancas ágeis das ciganas dando-me as boas vindas, cheguei. As cidades aqui estão, os carros, os prédios... E trago muita alegria. Que bom ser flho das estrelas. Sermos filhos das estrelas...
Eduardo Aleixo
1 comentário:
E filho de estrela, estrela é! Como é bom ter por amigo uma verdadeira estrela... eu que não passo de uma pequenina estrela do mar...
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