Quando alguma coisa me preocupa, ocupo-me com coisas que me façam mexer as mãos... isto está a tornar-se um pouco mais difícil todos os dias devido às dores que nelas sinto, cada dia mais fortes. Mas espero poder ainda por algum tempo, entreter-me com bricolage quando o tempo não está pelos ajustes para a pesca.
Foi o que fiz hoje o dia todo: andei aqui por casa, limpando, arrumando, consertando... tentando pôr alguma ordem no meu mundo interior que nunca foi um mar calmo, mas que de alguns anos para cá tem sido de uma tranquilidade, quase inquietante numa pessoa tão emotiva quanto eu...
A verdade é que passei a apreciar a tranquilidade. Quando me perguntam se sou feliz, digo "não, mas sou tranquila...". Para mim isto é o equivalente ao ser feliz dos outros... antigamente tinha momentos de grande felicidade, seguidos de momentos de grande tristeza, que quase sempre duravam muito mais que os momentos felizes. Hoje acontecem-me coisas que seriam tremores de terra para outras mulheres, como já o foram para mim, e eu fico surpreendida comigo mesma, porque no instante seguinte estou tranquila, consegui relativizar os acontecimentos e nada já consegue passar à categoria de drama...
Há uns tempos, conversando com um jovem amigo (muito mais jovem do que eu, mas que se sente "velho", imagine-se velho aos 30 anos!), ele dizia-me que agora percebia já porque é que eu gostava de estar só... ele próprio já não consegue pensar em viver de outra maneira. Estava no entanto atrapalhado com a situação em que às vezes se vê de estar cheio de raiva e não ter ninguém por perto para a descarregar.
Daqui pode concluir-se que muita gente casa para ter alguém em quem descarregar a raiva.
Depois há os outros que aprenderam a descarregar a raiva nos amigos... e os outros que se insultam ao espelho... e os outros que descarregam no papel... todas estas formas me parecem mais apropriadas do que o casamento. Só dou aqui um conselho àqueles que costumam descarregar nos amigos: não descarreguem sempre nos mesmos... variem ou então arriscam-se a perder o vosso melhor amigo!
É por isso que eu penso que, quem chegou a certa altura da vida e tem consciência de que não é socialmente capaz de conviver dia a dia com outra pessoa, por muito que goste dessa pessoa, não a faça correr o risco de ser infeliz para o resto da vida! Quem ama quer ver o outro feliz! Se sabemos que vamos fazer o outro infeliz para quê insistir numa vida a dois?
Mas o mais importante para mim, numa relação é a confiança. Quando se deixa de confiar na outra pessoa, pode continuar-se a amá-la para o resto da vida, mas não se pode jamais reatar essa relação, porque ela está envenenada! E só quem quiser morrer envenenado pode continuar a viver com alguém em quem não confia...
A vida podia realmente ser mais fácil:como diz Gaby "Um é pouco, dois é demais!"
1 comentário:
Apenas direi que a serenidade é a grande batalha.
Gosto do conceito e persigo-o, há muito.
O conceito de felicidade é algo que já não me diz nada.
A serenidade, sim.
Isto é: a plenitude.
A ligação com o universo, o cosmos, de que fazemos parte.Uma procura incessante.
A descoberta do nosso eu interior.Do nosso rosto.
Ler Jung e o Budismo.
Mas nenhum livro é mais importante que a vivência.
A respiração...
Quando se atenta na respiração, o tempo pára. Só há o Presente.
Eduardo Aleixo
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