Ouço João Afonso, porque gosto da limpidez da sua música e porque ela me traz sons de África em português. É uma das coisas mágicas em que acredito: a música. Creio que a música tem o poder imenso de ajudar a mudar o mundo. Muita gente já percebeu isso. Há uma realidade que nos passa talvez um pouco ao lado, porque é evidente que nem toda a música tem esse poder. É preciso que o compositor tenha preocupações sociais para as transmitir.
A música de João Afonso não mudará o mundo mas enche-me de alegria e tranquilidade. É portanto mágica para mim. A sua voz suave encanta-me. Os seus versos, sem sentido muitas vezes, levam-me de volta à infância. João Afonso é pois, um mágico!
Hoje apetece-me João Afonso, porque vi imagens do Chade de que não gostei. O que se passa no Chade, o que se passa em África é terrível e não é escondendo a cabeça na areia do deserto como avestruzes que resolveremos o que quer que seja. Não há magia no Chade que morre de fome e sede... não há magia onde não há pão, educação, liberdade religiosa. Não há magia num país invadido. Não há magia na guerra. Para eles não há natal. Aquelas crianças nem sabem que existe o pai natal. Porque ninguém tem tempo para lhes contar estórias que abrandem um pouco a selvageria a que os seus olhos se habituaram diariamente. Para aquelas crianças só existe a fome, a doença, a morte. E se por acaso escaparem à morte, que homens se poderão tornar? Quase todos, novos senhores da guerra.
Porque somos o que aprendemos e isso é o que estas crianças aprendem. É preciso matar para não morrer, é preciso fugir, fugir, fugir, fugir... eternamente se não quiserem matar nem morrer!
Uma vida em fuga! Isto não é magia!
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