Já lá vão 26 anos!!...
Soube da notícia da queda do avião,estava eu,com a minha namorada,hoje minha mulher,num restaurante do Bairro Alto.
Quando descemos o Chiado deparámos,no Rossio,com uma manifestação de forças de esquerda,na qual, lembro-me bem,havia palmas e regozijo,da parte de muita gente,pelas mortes acabadas de anunciar.
Soube,no dia seguinte,que militantes do PC tinham feito o mesmo,no Barreiro.
Lembro-me de ter sentido uma grande tristeza por ambas as coisas: pelo desaparecimento trágico de pessoas com muito valor,que eu admirava,embora não pertencessem à minha área política ( Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa: o primeiro,um político corajoso e de grande visão e o segundo,um parlamentar brilhante) e pelo ódio dos manifestantes,indiferentes à morte daqueles,coisa só justificável,mas inaceitável,por idologias sem conteúdo humano.
Vem,a talhe de foice,dizer que já outros acontecimentos,da mesma laia,e por essa época,me tinham ensinado que o comunismo não prestava: vi o mesmo ódio na ocupação das terras,no Alentejo,com o objectivo último,a coberto da Reforma Agrária,de pôr o Partido no lugar antes ocupado pelos legítimos proprietários...
Voltemos,no entanto, às mortes trágicas de Sá Carneiro,Adelino Amaro da Costa e restantes ocupantes do avião. Sabe-se que o processo de Camarate se arrasta desde então.Muitos livros ja foram escritos sobre as teses de acidente e de atentado.Muitos vestígios desapareceram do local da queda do avião.Algumas testemunhas não falaram, talvez porque foram aneaçadas.Muitas Comissões de Inquérito foram arquivadas, sem chegarem a conclusões. Os anos passaram...
A ideia que tenho é que não houve a coragem de querer-se apurar a verdade dos factos.Algumas investigações apontam para a existência de indícios de possível atentado: os corpos chegaram já inanimados ao solo ( o que aconteceu antes da aterragem forçada? ) e não houve perda de combustível como motivo para a queda do avião...A existência de indícios de possível atentado devia ser razão suficiente para que o poder judicial fizesse julgamento do caso.Mas não. Podemos pensar que tudo foi feito para que o processo viesse a prescrever.Como veio a acontever,como sabem.
Agora, que o processo prescreveu,só nos faltava aparecer uma figura,que sempre foi falada,como eventual interventora nos acontecimentos,um tal José Esteves,a afirmar o seguinte: « Eu fabrico a faca,mas não dou a facada.As armas não matam.Quem mata são os homens.Em Camarate tudo o que fiz foi dizer:" Sim,senhor patrão"»...
Será verdade?
Serás mentira?
Se for verdade que houve um patrão,quem foi?.O que mandou o patrão fazer?Como sabê-lo,se o processo já prescreveu?
Se for mentira,como comprová-la, sem que haja um julgamento?
Como pode a prescrição impedir que o país saiba a verdade?
Vai este país,em nome de pincípios jurídicos válidos,mas abstractos,que foram concebidos para servirem de regra, como o de ser perigoso levantar a prescrição para um caso concreto...( como se não hovesse excepções...) ficar com esta mancha vergonhosa na sua História?Vai este país lavar as mãos,como Pilatos,e arrumar de vez o assunto,dizendo singelamente que já prescreveu e, como tal, nada é possível fazer?.Ou então,dizer: foi um erro da Justiça,entre muitos outros ,que infelizmente existem...
Por mim, acho isso escandaloso.Acho que existem momentos na vida das sociedades em que a legitimidade,mais do que a legalidade,é que deve prevalecer.É este caminho que espero a Justiça pise,com a criação possível,à luz das informações que vamos ouvindo,de um Procurador Especial,em seguimento de proposta conjunta dos dois maiores partidos do país...
Eduardo Aleixo
1 comentário:
O meu filho mais novo tinha nascido há pouco tempo... também me lembro perfeitamente da maneira como a notícia foi transmitida pela RTP, em plena campanha eleitoral para as presidenciais...
quanto a este José Esteves, um amigo de Angola falou-me dele há uns anos... eu já sabia portanto que o homem fabricava "engenhos" e segundo esse amigo, ele mesmo lhe teria dito que fora ele o fabricante do engenho que fez explodir o avião... na altura pensei que era o meu amigo a "armar aos cucos"... pelos vistos não era... e pelos vistos fica o dito pelo não dito, já que segundo a nova versão tratava-se apenas de uma "brincadeira"...
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