25 dezembro, 2006

E chega ao fim mais um dia. Daqui a nada chega ao fim mais um ano. Hoje, em família, lembrei a minha avó materna que partiu faz hoje precisamente 14 anos. Tinha 92 anos e uma memória invejável. Viveu só, até ao fim dos seus dias, sem depender de ninguém.
Embora tenha vivido com ela poucos anos, os que vivi foram durante a minha infância e hoje lembrei as estórias que ela me contava, que eram perfeitamente aterrorizadoras, com muitas facas e muito sangue pelo meio e muitas meninas boas que afinal faziam tambores com a pele dos maus que mandavam matar... enfim: se fosse hoje a minha avó querida seria acusada de ser uma megera que traumatizava as criancinhas. Não me parece que tenha ficado traumatizada com as estórias que ela reinventava todos os dias, mas fiquei certamente por ela se ter ido embora faz hoje precisamente 14 anos, numa altura em que estava comigo, como sempre acontecia nas férias de natal das crianças.
A minha avó Gertrudes ensinava aos bisnetos truques que tinha aprendido enquanto andou fugida de casa com um circo que tinha passado lá na terra dela. Ela teria 7 ou 8 anos mas jamais esqueceu as mágicas que aprendeu por aqueles dias, até o pai descobrir onde ela estava e a ir buscar, quase arrastada! Pronto: agora já sabem a quem saio...
Ainda hei-de escrever muitas das estórias da minha avó Gertrudes que me ensinava a construir papagaios de papel e bonecas de papel... e me fazia as matronas de pano mais bonitas que alguma criança alguma vez teve.
Pois hoje lembrámos com muita saudade, mas também com muita alegria, a avó Gertrudes que escolheu o dia de partir de modo a jamais ser esquecida: como se fosse possível esquecer a saudade que deixou dentro de todos nós!
E até o meu filho que vive em Itália, levou o dia a ligar-me de meia em meia hora porque está morto de saudades da família, assim como nós estamos dele que também herdou a parte mágica e "doida" da avó Gertudes.
Por isso aqui deixo o meu tributo de saudade imensa, avó querida. Tenho a certeza que seja onde for que estejas, continuas a inventar as estórias tenebrosas e a ensinar truques de ilusionismo...

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