16 dezembro, 2006

A cidade dos cães


"Dogville" é um filme de 2003 que eu ainda não tinha visto apesar da insistência da minha sobrinha actriz que lê e vê os mesmos livros e filmes e peças de teatro que eu, uma vez que temos gostos muito semelhantes. Pois hoje, como diria o velho Alfredo, tirei-me dos meus cuidados e vi o filme.
É na realidade uma peça de teatro filmada e trata de sentimentos e emoções, trata do homem, que afinal é um bicho.
Resumindo a estória: uma rapariga perseguida por gangsters acaba por ir dar um povoado, Dogville, perdido no meio do nada e que é habitado por 15 adultos e algumas crianças, todas pertencentes à mesma família. É ajudada pelo filho do médico, que se auto intitula escritor, sem que tenha escrito qualquer livro, mas que consegue convencer a população a abrigar a rapariga, Grace, por duas semanas, para depois decidirem se deve ou não continuar a abrigá-la.
Grace tenta conquistar os habitantes do povoado, oferecendo-se para os ajudar nas suas tarefas, mas todos recusam, dizendo que o trabalho ali chega apenas para eles... Passado o tempo de "prova" é decidido que Grace fica, apesar de ser procurada pela polícia como desaparecida. A princípio ela consegue que os habitantes a deixem trabalhar um pouco para cada um e com o pouco que ganha, vai comprando uma a uma as estatuetas, que são sete ao todo e que estão à venda na única loja do povoado. Conquista os habitantes, um a um, até que a polícia invade o povoado com um cartaz procurando Grace por assaltos a Bancos. Quando perguntam à polícia quando ocorreram os assaltos a polícia responde "nos últimos 15 dias"... portanto todos sabem que o cartaz é uma mentira, que Grace esteve ali aquele tempo todo, mas esta notícia faz com que Grace comece a ser mal tratada: obrigam-na a trabalhar o dobro por metade do preço, começa a ser violada por um dos habitantes e quando tenta fugir com a ajuda do filho do médico, é violada pelo homem que a devia ajudar a fugir a troco de dinheiro e depois de o fazer a leva de volta a Dogville, onde ela passa a ser mesmo escravizada, arrastando correntes para onde quer que se mova, para que não tente fugir de novo. Grace apenas tentou fugir, mas nunca perde a esperança, não chora, não se revolta... aceita tudo com resignação. Até que o filho do médico de quem ela gosta e que diz amá-la, também ele quer o seu corpo e ao perceber que ela não quer que ele faça o mesmo que todos os outros fizeram, decide traí-la e telefonar aos gangsters que lhe tinham oferecido uma recompensa se ele desse notícias dela.
Quando os gangsters chegam, percebe-se que o chefe é o pai de Grace que se tinha desentendido com ela por ela o chamar de arrogante, quando ele acha que ela é mais arrogante que ele, por suportar todas as dores e violências sem se rebelar... numa primeira conversa com o pai ela diz que pretende ficar em Dogville, que o que os habitantes lhe fizeram é apenas resultado da vida sem sentido que levam, mas depois pensa melhor e diz ao pai que quer mesmo vingar-se, matando todos os habitantes e deitando fogo ao povoado. E quer que a família que tem as crianças veja os seus filhos morrerem um a um depois de dizer à mãe "se não chorares pelo primeiro que morrer pouparemos os outros", porque esta mulher lhe tinha partido as estatuetas que ela tinha comprado com muito esforço, por acreditar que ela tinha seduzido o seu marido... Grace nunca se defendeu dos insultos que todos lhe dirigiam e o único que sabia das violações era Tom o filho do médico que dizia amá-la, mas que apesar disso a traiu e que ela, apesar de dizer que o amava mata com um tiro na cabeça.
Um filme muito violento, cru, com interpretações fantásticas... tinha saudades de ver Laureen Bacall. E Nicole Kidman é sempre extraordinária.
Uma visão do que cada homem é capaz quando as circunstâncias o permitem... Aonde pode chegar a maldade, a violência, o ódio... que acaba por poupar apenas Moisés, o cão, que como que por milagre se salva das chamas.
Um filme que me deixou de rastos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Foste a primeira pessoa a falar-me deste filme, mas descreveste-o tão bem que também eu fiquei arrasada.