... às tantas a culpa é da minha alegria, da maneira como exprimo os meus afectos... às tantas são apenas mal entendidos e eu, aqui a sofrer por nada, por coisa nenhuma, porque nada me pode magoar, porque cheguei ao fundo há muitos anos e voltei, sobrevivi e aprendi a ser feliz, de modo que às tantas nada disto importa, nada do que se passou importa, nada do que se passou existiu...
Portanto no dia seguinte, munida dos mapas e dos documentos parti em busca do mar... passei de novo a Sta. Clara-a-Velha, terra limpa e cuidada como é uso no Alentejo, segui em direcção a Odemira e depois... depois a Zambujeira do Mar, muito mais bonita agora no Outono, com um mar revolto, despejada dos turistas do costume no Verão e dos festivais que lhe inventaram, para a maltratar... mas ela é teimosa como eu, e ei-la pronta para viver a sua própria vida, que é virada para o mar, para a pesca para as coisas bonitas da vida e os albatrozes sobrevoando a praia em voos rasantes...
e de seguida o Cabo Sardão com o seu farol, e Almograve e mais mar, e de novo Odemira e com os olhos cheios de mar, a alma cheia de albatrozes, decido-me por Beja, sempre por estradinhas (mais caminhos que estradas), por planícies que estão mais verdes do que o costume, devido à chuva... e passei por um burro que não me foi possível fotografar com grande pena minha, e ciganos com carroças puxadas por mulas e mulheres muito coloridas...
... e foi assim que acabei o dia, acabando de ler o que o António escreveu sobre ele e sobre mim e sobre tudo, porque como ele diz, não se trata de um romance, trata-se da vida... trata-se pois de tudo o que nos acontece, de tudo o que nos ocorre, mas quase sempre queremos falar de tristezas, para nos aliviarmos, mas podemos também trocar as voltas à vida e falar das alegrias, que se formos a contabilizar são um pouquinho superiores... (isto já sou eu a falar, não o António, claro)
... e à noite, depois do jantar à lareira, acabei de ler o "O Livro de Tao" que o Eduardo Aleixo me emprestou há séculos, mas que como já lhe disse, precisava de o aprender, porque não se trata de um livro comum que se leia... é mais uma cartilha da vida, que vou ter que encontrar seja onde for, porque é um livro indispensável a quem quiser ser feliz e fazer felizes os que o rodeiam...
... e no fundo é só isso que eu quero: aprender um pouco todos os dias, ser feliz e sentir felizes os que me rodeiam...
2 comentários:
Sê bem vinda e obrigado pelo cabaz de imagens belas que trazes da minha terra e do meu mar alemtejano, incluindo o burro, e os ciganos...
Gosto tanto dessa costa, onde não vou há muito tempo...
Que saudades dos tempos em que acampava em Porto Covo, em que pescava robalos em Odeceixe,em que vivi uns tempos, numa tenda, poisada ao lado de uma família de pescadores, sobre a praia...Mas isso foi mais para os lados de Melides, no Carvalhal... Todas as manhãs era acordado pelo som de um búzio, que servia para chamar as aldeias vizinhas para ajudarem na primeira pesca da manhã...
Hei-de um dia contar essa história...perdão: estória, como agora se diz.
Eduardo Aleixo
A praia do Carvalhal, perto de Melides (porque existe a outra muito mais ao sul) é das melhores em termos de areal que conheço na costa alentejana... e olha que eu conheço aquela costa!
E ficamos à espera da tua história, que pelos vistos quem gosta de estórias sou eu...
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