08 dezembro, 2006

Apetecia-me falar um pouco mais do monte do Cerro da Nave Redonda, onde passei umas mini férias tão agradaveis... mas acontece que apanhei por acaso Pilar del Rio, a famosa jornalista espanhola, que, por acaso, é casada com José Saramago. E que sorte tem José Saramago por ter como companheira uma mulher tão absolutamente fantástica!
Uma mulher que é o orgulho, a voz, de qualquer mulher que se preze... sobre qualquer tema esta mulher fala com uma sabedoria, um talento, um encanto... faltam-me palavras para descrever os sentimentos que esta mulher desperta em mim.
Elegeu três dos livros de Saramago de que eu mais gosto: "O Memorial do Convento", "O Ensaio sobre a Cegueira" e "O Ensaio sobre a Lucidez", para falar de mulheres que por amor são capazes de mudar o mundo: Blimunda e a "mulher do médico". E talvez vos pareça estranho eu estar de acordo com Pilar sobre as mulheres e sobre o amor... porque, embora não acreditando no amor, como não me canso de dizer, também eu amei e amo e tal como estas mulheres vivo cada amor com um excesso a que chamo paixão... é por essa paixão que dou a volta ao mundo... provavelmente ainda não encontrei o homem capaz de ser amado desta forma excessiva para o resto da vida. Na verdade creio que esse homem não existe e é só por isso, que o amor não existe. Para mim, claro.
Pilar ama o seu companheiro. Pilar ama a vida. Pilar ama os fracos e oprimidos. Pilar é uma MULHER,
que diz que os homens têm muito a aprender com as mulheres: como governar uma casa, como governar um Estado em proveito dos cidadãos e não de si mesmos.
É claro que não penso que não haja mulheres desonestas, corruptas, agressivas, más. Claro que há. Mas em geral, as mulheres têm uma ternura de que os homens não são capazes... as mulheres foram educadas através dos séculos a deixarem-se sempre para o último lugar... à sua frente sempre o marido, os filhos, o patrão, tudo... no fim, se houver um bocadinho para elas "que bom"! As mulheres foram treinadas para não serem egoístas. E é por isso que, tal como Pilar del Rio eu penso que as mulheres têm muito a ensinar aos homens... o problema é que a maior parte deles não foi treinado para aprender: foi treinado para mandar, impôr e (em muitos casos), responsabilizar a mulher quando as coisas correm mal...
Bem sei que isto parece uma conversa feminista. Mas não é. Eu não sou feminista. Sou pela igualdade de direitos e obrigações, tendo em conta a diversidade da natureza física do homem e da mulher...
Por falar nisso, vocês sabem que as mulheres são quem carrega com mais peso no mundo? Sabiam que as mulheres carregam diariamente muito mais toneladas que os grandes cargueiros? Sabiam? Sabiam que as mulheres que todos os dias transportam lenha, compras, filhos... carregam um fardo muito mais pesado que qualquer navio cargueiro do mundo?
Uma delícia ouvir esta mulher... e fiquei a pensar para mim "se o António encontrasse uma mulher assim, ainda assim seria o mesmo escritor?". Creio que não. A amargura do António vem da sua solidão tão absoluta, tão inacessível, tão egoista como ele próprio confessa. Ele não casaria nunca com uma Pilar, porque ela tem uma vida própria e o António quer uma mulher só para ele... que esteja ali à mão de semear sempre que ele der um suspiro... se calhar é por isso que eu amando tanto o António nunca me apeteceu amá-lo dessa maneira... essa a que todos chamam de amor...

1 comentário:

Unknown disse...

Interessante o que escreveste.E verdadeiro.Mas ainda bem que esclareceste a tempo o teu discurso, que já ia tomando cores de feminismo.Que em ti, não existe, eu sei.Mas foi importante alterares a rota do discurso para bem de todos, tambem das mulheres que, por falta de esclarecimento, ou de maturidade, ainda confundem igualdade de direitos com luta contra o sexo oposto.
Sem dúvida que o espírito feminino trouxe à vida social, e isso vê-se na Política, outra sensibilidade sabedoria.
Tem sido esta umas luta grande, como sabes, das mulheres e dos homens, desde há décadas.
Somos companheiros.Sempre o fomos.A História corrompeu os dados do jogo da Natureza.Mas as coisas vã-se compondo.Talvez muito lentamente.Mas vão.Os tempos de hoje são bem diferentes dos de antigamente.Mas a luta contina.E eu estou ao lado das mulheres, claro.

Eduardo Aleixo