01 novembro, 2006

O Bruno só voou mais alto


Morreu o alpinista Bruno Carvalho. Fazia parte da expedição liderada pelo também português e sobejamente conhecido João Garcia, a um dos picos do Tibete. Tinha 31 anos e era já considerado um dos melhores... morreu provavelmente como queria: fazendo aquilo de que gostava e em que acreditava!
Penso que os alpinistas são aves. Voam sem asas... as pernas, os pés, os braços, as mãos... são as suas asas. Chegam aos picos do Mundo e não consigo sequer imaginar o que sentem quando lá chegam! Mas tem que ser algo de muito extraordinário, para repetirem e aumentarem os riscos, mesmo após os desastres de que são vítimas, como aconteceu com o João.
Será apenas a adrenalina? Não creio... usam as suas asas para concretizarem os seus sonhos. Mas lá que é precisa muita coragem, lá isso é. Sei que a família e os amigos do Bruno não vão concerteza ler esta "folha". Mas mesmo assim aqui fica o meu abraço de solidariedade... e acreditem: não o perderam! Ele apenas voou mais alto do que estava previsto...

1 comentário:

Unknown disse...

Sim, tem de ser algo de muito estranho o que sentem.O que sentem é certamente grandioso.Tão grandioso que será difícil encontrar as palavras para descrever os sentimentos.Escrevo o que escrevo por imaginação.Mas também porque um dia li uma entrevista com um grande alpinista e o que ele dizia era algo de indizível, de espantoso.Olhar para aquelas montanhas, para a sua altitude, cheias de neve, fustigadas por ventos violentíssimos, com pouquíssimo oxigénio, de acessos lisos e íngremes e escorregadios já é simultâneamente belo, mas assustador. Ter o gosto, a paixão, a ousadia, de as defrontar, de as trepar...é porque um apelo muito forte existe, uma força maior do que o corpo, algo de divino, de sobre-humano, só isso pode levar um ser humano a defrontar a morte, só, entre o céu e a terra, para gozar a glória da vitória sobre a vida e sobre a morte...
Eu vi de muito perto aquelas montanhas, quando estive em Kathmandu, voei lentamente sobre o tecto do mundo, apercebi-me da grandiosidade do Homem e do Mundo e curvo-me em silêncio, com muito respeito, perante o nosso compatriota que viu coisas que a esmagadora da humanidade não viu, nem vai ver,sentiu por certo a grande, maravilhosa e eloqente solidão do Homem no Universo.