23 novembro, 2006

Fado Pessoano


O fado, já diz Fernando Pessoa
não é canção má nem boa
não é alegre nem triste
não é de Coimbra ou Lisboa
é um ser estranho,
uma pausa que a alma portuguesa
deu ao mar quando tudo desejava
sem força para desejar

Toda a canção é um poema ajudado
que diz o que a alma não tem
e a isso não escapa o fado
que é um poema ajudado também

O fado é fadiga duma alma forte
é uma espécie de olhar que viu
o sorriso da morte
nos brancos espelhos do mar
é um olhar quase de desprezo
a um Deus que desertou
quando mais Dele precisava
quem duvidar nunca ousou

No fado todos os Deuses se juntam
a cantar lá nas alturas
trazidos pelos avós na poeira das lonjuras
e esses Deuses estão em nós
espalham-se pela mesa
convocados pela voz
e só por acaso soam a tristeza

(Carlos Tê)

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