É engraçado pensar no que falamos quando estamos com os amigos. Se são amigos de infância, naturalmente há recordações conjuntas. Fala-se muito, uma coisa puxa outra, ri-se ao lembrar as diabruras de cada um e dos terceiros... que não estão presentes, mas é como se estivessem!
Quando estamos com amigos que fizemos depois de adultos, começa a sentir-se que a amizade é real, verdadeira, pura, quando começamos a falar das nossas infâncias... É verdade que isto nem sempre será assim: há pessoas mais abertas que outras, mais faladoras ou menos... agora que penso nisso, sei que há pessoas que considero como minhas amigas mas de que não sei nada sobre as infâncias... acabo de falar com uma delas... e prometo aqui que, assim que ela melhorar o suficiente para um almoço a quero ouvir falar da infância... porque as estórias que passámos nessa altura nos marcam para a vida.
Almocei hoje com a Maria Helena e ela começou falar-me do monte no Redondo e do quarto escuro, que ela vai manter para se uma dia vier a ter netos os poder castigar... estou mesmo a vê-la castigar seja quem for quanto mais os netos!
O facto é que ela em miúda era fechada no quarto escuro, pela mãe. E diz que não ficou nada traumatizada... ali é que ela inventava as diabruras que ia fazer a seguir... o pai, que era um homem muito doce, pintou o tecto do quarto escuro de azul, para que ela pudesse ter um pedacito de céu enquanto cumpria os castigos impostos pela mãe.
São estórias destas que nos unem aos amigos. A Maria Helena conta esta estória sem mágoa... sem rancor... pelo contrário: a sua alegria é visível quando fala dos factos da infância.
O que eu gosto desta alentejana! Vou ler o "Casei com um Masai" bem rapidinho, para ter pretexto para um novo almoço, rapidamente... eu sei que não precisamos de pretextos, amiga... é só uma maneira de dizer.
É que eu sei que ela tem muitas estórias para contar... para além das dezenas, talvez centenas que já me contou... É que quando estamos juntas, enredamos os assuntos de tal maneira, que às tantas já não sabemos do que estamos a falar... Sabem como é? Claro que sim!
Quero ouvir as estórias do quarto escuro.
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