14 novembro, 2006

Está quase a nascer...

É justo que se fale do Outono.Que não tarda vai morrer. Também eu prefiro o Verão. Tendo nascido na terra das estevas, da urze, do rosmano, do xisto, das encostas escarpadas e lisas, reino das cegonhas solitárias, ali, onde o sol escalda e a monda e a ceifa eram coisas que só homens e mulheres famintas faziam e os homens, nem todos, só os mais fortes...

Era a praça dos ceifeiros
Era assim que lhe chamavam
Homens e mulheres do campo
Mesmo assim eles ceifavam...
( poema da infância...)

... a verdade é que nasci, como nascem os escorpiões, em linguagem astrológica, entenda-se, em Outubro, em pleno Outono, e, como tal, sensível, à vida do Outono, à sua respiração...
Tempo de morte e de nascimento, deixem-me fazer uma pausa, para dizer que são 23,45h, do dia 14 de Novembro, mas subterraneamente, subrepticiamente, na sombra, uma energia frenética e cantante se insinua, se reclama, quer nascer, quer rebentar, como cogumelos após as primeiras chuvas a terra húmida debaixo da caruma dos pinheiros: uma nova vida vai nascer.
Isto que conto aconteceu há alguns anos, não muitos, é certo, mas aqui o escrevo, porque o sinto, porque é evento que se repete e está acontecendo eternamente com todos os seres.
Por isso me apresso, dado que a hora do nascimento se aproxima, com o inconveniente de misturar a descrição do Outono com o nascimento de uma criatura que vocês conhecem e que também é escorpião, filha das estrelas e da terra,sei do que falo, desta viagem constante da pureza das estrelas, mundo quase místico, para o húmus onde se desenrola o drama dos mortais, sabedoria do mundo à custa da perda de tanta enegia por amor e atenção ao mundo, está quase, quase a nascer...
Deixem-me dizer apenas, antes que ela nasça ( porque se trata de uma menina...), que vale a pena, sendo amante so sol, ser filho do Outono, porquanto o sol fica cheio de inveja face aos tapetes das folhas amarelas, face ao cantar dos riachos que deslisam pelas sebes, face ao farfalhar das folhas nas mãos hábeis e doces do vento, face à preparação das árvores, cada vez mais despidas e disponíveis para a meditação que fazem duante o Inverno qe se aproxima, face à recepção da terra às mãos dos homens que a preparam para as sementeiras de Janeiro, face...
Mas tenho de me apressar.É quase meia-noite.Um novo ser vai nascer.Aliás, já nas ceu.Não sei há quantos anos.Não sei com quantos quilos.Sei apenas que se chama Eduarda.Não sei se nasceu calada, ou se com barulho.Sei apenas que já é dia 15 de Novembro.Que é minha amiga.
Saúdo este dia e ofereço-te o puco que tenho: amizade.E palavras quentes.Com sílabas de mar.E música de búzios.
Muitos parabéns, Eduarda.

Eduardo Aleixo

1 comentário:

Maria Eduarda disse...

E o que me dás basta, que mais não quero senão a eternidade desta amizade. Beijo e obrigada por este texto tão bonito, que vou gravar para que os meus netos saibam um dia como se anuncia um nascimento...