10 outubro, 2006

Aquele namorado que tinha
um nome
bom: há quanto tempo foi?

A vida resvalante como
gelo

e aquele namorado de nome bom
e férias, ficou perdido em luz,
mais de
vinte anos.

Deu-me uma vez a mão
um beijo resvalante à hora de deitar
e na pensão. Mas tinha um nome bom,
falava de cinema e calçava de azul
e um
bigode curtinho,

que escorregou aceso como
gelo

no centro da pensão.

Rasguei as cartas dele
há quinze anos, em
dia de gavetas

e de luz, e nem fotografia me
ficou

de desarrumação. Mas tinha um nome bom,
falava de cinema e calçava de azul
e resvalou-me quente como gelo
à hora de
deitar:

um namorado sem falar
de amor

(que a timidez maior
e o quarto dos meus pais
nessa
pensão

no mesmo corredor)

(Ana Luisa Amaral)

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