À noite, nesse Verão, metíamo-nos numa chata e aí íamos nós. Baía de Ponta Delgada fora, em busca dos "solitários", mas não só. Muitas vezes escolhíamos o veleiro a "assaltar" pelo pavilhão.
Ás vezes os remadores falhavam... então tu saltavas para a água e nadavas, empurrando a chata, qual motor de 25 cavalos...
Muitas vezes tínhamos a sorte de ser convidados a entrar nos veleiros. Lembro-me bem do solitário francês que nos ofereceu uma bebida e vocês encantados com o "pastis" e eu agoniada até dizer chega! Que bebidinha horrorosa "balha-me Deus", como é que vocês podiam gostar daquilo????
Era bem simpático, não era? Trabalhava como engenheiro na Citroën e no dia seguinte fomos ao aeroporto porque a mulher e o filho foram ter com ele de avião. No mar era solitário, mas depois a família acompanhava-o de porto em porto...
E o Gaspar Frutuoso que tu e e o Luís mantinham impecável? Até parecia uma casa de verdade... E depois houve aquela tentativa de assalto, pancadaria, homicídio, contra o Luís, pela malta da FLA. E tu lá, a fazeres o papel de guarda-costas... Sempre presente. Sempre.
Eram tempos lixados para os "continentais". Não se passava semana sem que houvesse notícias de agressões. Nem mulheres grávidas escapavam...
"Acompanharam-me" constantemente durante semanas: esperavam-me à entrada e saída de casa, quais sentinelas sempre a postos. Passados seis anos, soube pelo "chefe" que não vou dizer quem era, porque a isso me comprometi nessa altura e, embora toda a gente saiba quem era, o prometido é devido, que estavam de facto a "guardar-me". Tinham instruções precisas para que não me acontecesse nada de mal. Também não posso revelar o porquê... Mas quando soube deu-me vontade de rir... Levei semanas a fazer de "super-mulher", a olhá-los nos olhos, como se isso servisse de alguma coisa, e no fim eles estavam só a proteger-me. Devo ter sido a única "portuguesa" que teve direito a isso... Só porque não me consideravam "portuguesa" mas "aliada". Passámos por cada coisa... Cada coisa na minha "casa comunista"....
Será que te lembras? Claro que sim. A tua memória é bem melhor que a minha. Aquela amnésia deu-me cabo de metade da vida... pode ser que um dia ainda recupere... pode ser.
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