Faz hoje 5 anos que te vi pela última vez... Foi contigo que assisti ao directo do 11 de Setembro. Estava tão atarefada que não conseguia perceber o que a televisão nos mostrava. Era ficção? O anúncio de um novo filme de Spielberg? Não prestei atenção às palavras. Baixaste o som da TV. Afinal eu tinha ido para assinares papéis necessários e para conversarmos...
Foi o que fizemos... pela última vez. Estavas bonita. Parecia que tinhas ganho peso e brilho nos olhos. Animada como sempre. A tua força esteve sempre no facto de recusares as evidências. Para ti todos os resultados dos exames podiam pertencer a outra pessoa. Afinal são coisas que estão sempre a acontecer, não é?
A nossa amizade não tinha muito tempo, é verdade. Um pouco mais do que 3 anos.
Mas a intensidade da amizade não se mede pelo tempo e ambas sabemos disso. Éramos tão diferentes, lembras-te? Tu, tão doce como o teu nome, Dulce. E eu com esta carapaça que mantenho e mantém à distância os indesejáveis. Não para ti, claro. Brincava contigo, com a tua ingenuidade, com a tua falta de aptidão para a vida. Falávamos dos filhos, tu falavas do teu marido com quem te davas tão bem. Também era fácil dar-se bem contigo. Tu eras uma pessoa tão fácil... Tão correctamente ingénua. Tão genuína na tua inocência!
Disse-te que ia a Malta. Olhaste-me com os teus enormes olhos verdes e disseste "Gostava tanto de ir contigo..." Prometemo-nos que logo que estivesses bem, deixarias o marido e os filhos para ires numas curtas férias comigo. Achavas o máximo, o facto de eu viajar sempre sózinha... Querias ir comigo. Querias esquecer um pouco toda a dureza do dia-a-dia. O trabalho que detestavas... a que nunca conseguiste entregar-te, como eu... Querias esquecer o mal que te faziam diariamente... querias estar bem e partir comigo. Querias viver a aventura de uma viagem. E depois de Malta, todas as viagens que fiz, foi contigo, no meu coração, amiga. Porque promessa é dívida e quando eu te prometi levar-te comigo, sabia bem que não poderia cumprir... eu sabia que eras mais um ser etéreo, que passava na minha vida como um sopro.
Quando voltei de Malta, alguém me disse que tinhas piorado. Não quis voltar a ver-te. E sei que tu querias que eu fosse, mas sou uma cobarde. Já não era capaz de olhar para ti e fingir que acreditava que estavas bem... Aqui te peço perdão pela minha cobardia, amiga. Passados 5 anos, faço públicamente um acto que se passa diariamente dentro de mim... peço-te desculpa por te ter faltado nos últimos dias, todos os dias... Perdoa amiga.
Até à próxima viagem. Um abraço pelo teu sorriso.
Sem comentários:
Enviar um comentário