Oriana Fallaci morreu esta madrugada. Acabo de saber e acho extraordinário que, tendo estado o dia todo ouvindo rádio, só tenha sabido da notícia numa "muito breve" do telejornal da RTP1. Extraordinário o facto de quase não ser noticiado o desaparecimento de uma jornalista e escritora tão notável, quanto a Mulher Oriana.
Era bastante nova quando li "Um Homem". Não conhecia nada desta escritora e não sabia sequer que era jornalista... só o soube mais tarde. De qualquer modo, "Um Homem", é sem dúvida um dos romances da minha vida. Porque está bem escrito, porque conta uma estória verdadeira sobre um Homem verdadeiro, (Alexander Panagoulis), que dedicou a sua vida a combater a ditadura militar de George Papadopoulos e apesar de ser preso em cadeias de segurança máxima e de ter tido a "honra" de para si ter sido construída uma cela especial, ainda assim conseguiu fugir.
Acabou morto pela ditadura de direita, como ele próprio previra.
Pensei muitas vezes que Oriana acabaria sendo assassinada também. Pela coragem, pelo desassombro, pela ousadia de enfrentar tudo e todos os que ela considerava injustos, cruéis ou simplesmente pela ousadia de entrevistar sem reservas todas as figuras realmente importantes e relevantes politicamente (e não só), no passado século. Acho que ela teria preferido morrer assassinada pelas suas ideias do que por um estúpido carcinoma...
Disse " Me desagrada morir, sí, porque la vida es bella, incluso cuando es fea".
É claro que era uma mulher polémica.
É claro que eu nem sempre estava de acordo com ela.
É claro que o que me atraía nela era a vertigem da radicalização.
É mais do que claro: hoje, morreu a Mulher Oriana e eu fiquei mais pobre...
"Há a Europa dos banqueiros que inventaram a farsa da União Europeia, dos papas que inventaram a fábula do Ecumenismo, dos facínoras que inventaram a mentira do pacifismo, dos hipócritas que inventaram a fraude do Humanitarismo. Há a Europa dos chefes de Estado sem honra e sem cérebro, dos políticos sem consciência e sem inteligência, dos intelectuais sem dignidade e sem coragem. Em suma, a Europa doente. A Europa que se vendeu como uma galdéria aos sultões, aos califas, aos vizires, aos janizaros do novo Império Otomano. Em suma, a Eurábia." (Oriana Fallaci)
"Porque a nossa identidade cultural foi bem definida através de milhares de anos, não podemos suportar uma onda de migração de gente que não tem nada a ver connosco e que nos querem absorver. Eu sou atéia, e se uma atéia e o Papa comungam os mesmos pensamentos, é porque existe alguma coisa de verdade. Existirá certamente uma verdade humana que está para além da religião. (Oriana Fallaci)
1 comentário:
Tomo a liberdade, Eduarda, de juntar a minha voz â sua, para prestar homenagem a Oriana Fallaci, que sempre encarou o poder e as mentiras, de frente, como é próprio dos grandes espíritos.
Por ela ter sido assim, indiferente aos agrados hipócritas dos políticos sem grandeza deste mundo, é que poucas palavras de invocação se leram na imprensa e se ouviram na televisão.
Lamentavelmente esta falta de justiça já vai sendo uma regra. Penso que no lugar etéreo onde se encontra ela dispensa tais falsidades e há-de preferir a lembrança, ainda que silenciosa, dos muitos corações que tocou, porque o mundo, felizmente, não é só composto de gente politicamente corecta...
Eduardo Aeixo
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