03 agosto, 2006

Eu vi muitos cabelos brancos...


... na fronte do artista/ o tempo não pára e no entanto ele nunca envelhece...
É assim que vejo Caetano, neste ano de 2006. Uma noite de Agosto, ventosa e desagradável, que não impediu o cantor e compositor de aquecer uma plateia que o aguardava ansiosa como sempre, na praça do museu do CCB de Lisboa.
Cantando velhos temas (quase todos) e outros mais recentes (poucos), a solo, nem o vento impediu Caetano de mostrar que realmente é um artista e não envelhece, mau grado o cabelo práticamente todo branco.
Com menos toques femininos do que no passado, com um pouco mais de peso (continua magro, mas já não cadavérico, como em tempos idos), a sua voz encanta tanto como a sua guitarra.
Pôs toda a gente a bater o pé e a cantar. Ouviu e falou. Sem complexos de "artista". O Caetano, o mesmo que conhecemos desde sempre e que continua o menino irreverente e opinante que eu adoro.
Abaixo a letra de "Diferentemente" (2004)
Acho que ouvi
uma canção de Madona
"When you look at me
I don’t know who I am"
e desentendi
pois comigo, é você quem
me olhando, detona
a explosão de seu saber
quem eu sou
eu nunca imaginei que nesse mundo
alguma vez
alguém soubesse quem é
mas se você me vê
seus olhos são mais do que meus
pois eu amo e você ama
então o indizível se divisa
e a luz de muitos céus
inunda a mente
e no entanto
diferentemente de Osama e Condoleezza
eu não acredito em Deus
E porque me emocionou deveras, não posso deixar de mencionar aqui o fado que dedicou neste espectáculo a Inês Pedrosa que eu tanto admiro, e que na sua voz se transforma numa bela canção de amor:
Confesso
Confesso que te amei, confesso
Não coro de o dizer, não coro
Pareço outra mulher, pareço
Mas lá chorar por ti, não choro
Fugir do amor tem seu preço
E a noite em claro atravesso
Longe do meu travesseiro
Começo a ver que não esqueço
Mas lá perdão não te peço
Sem que me peças primeiro
De rastos a teus pés
Perdida te adorei
Até que me encontrei
Perdida
Agora já não és
Na vida o meu senhor
Mas foste o meu amor
Na vida
Não penses mais em mim, não penses
Não estou nem p'ra te ouvir por carta
Convences as mulheres, convences
Estou farta de o saber, estou farta
Não escrevas mais nem me incenses
Quero que tu me diferences
Dessas que a vida te deu
A mim já não me pertences
Mas lá vencer-me não vences
Porque vencida estou eu
De rastos a teus pés
Perdida te adorei
Até que me encontrei
Perdida
Agora já não és
Na vida o meu senhor
Mas foste o meu amor
Na vida.
E por aqui me fico à espera da volta deste menino da Baía, que me tem acompanhado em todos os melhores e piores momentos da vida...
Por isso uma força me leva a cantar
Por isso essa força estranha
Por isso é que eu canto não posso parar
Por isso essa voz tamanha
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