23 agosto, 2006

Consultório sentimental


Casamento é coisa séria. Claro que sim. E divórcio é ainda mais sério. Casamento geralmente dá alegria. Divórcio dá dor, mágoa, raiva... e às vezes uma alegria imensa e um alívio do caraças.
Não tive festa de casamento e não tenho pena. Não tenho uma única fotografia do meu casamento. E não tenho pena. Porque o meu casamento não foi bom nem foi mau. Foi. Pelo menos naquilo de que me consigo recordar. Talvez não tivesse sido um casamento e nós julgássemos que era... talvez. Para ser sincera não me lembro bem. A minha memória selectiva apaga tudo o que é ruim e só deixa que fiquem as coisas que me fazem bem, as pessoas que me quiseram bem... e o que resta não é igual a zero. É muito bom.
O divórcio... ah se fosse hoje teria feito uma festa! De arromba. Porque o alívio de me recuperar foi tão grande que se fosse hoje eu não teria perdido tempo a desgastar-me com mágoas e dores. Até porque não havia razão para mágoas nem dores. No fim eu conseguira finalmente o que levei práticamente todo o tempo do meu casamento a exigir. E depois deu-me uma prática que nem vos conto!
Cada separação que se seguiu foi menos dolorosa que a anterior. Hoje já nada me dói. Entro e saio de uma relação da mesma maneira: de coração aberto, sem esperar nada, dando tudo de mim. É bom enquanto dura e depois continua a ser bom, porque não há mágoa, nem dor, nem raiva... nada. Apenas uma pontinha de saudade quando recordo os bons momentos. Os maus são apagados.
Vem isto a propósito de ter ouvido uma mulher confessar-me de lágrimas nos olhos, que ama tanto o marido que se ele a deixasse ela não saberia o que fazer da vida. Acho que se isso lhe acontecesse (e espero, sinceramente que não aconteça, porque se há coisa que me deixa feliz é um casamento feliz, passe a redundância ), ela acharia uma saída, como quase todas as pesoas, sejam homens ou mulheres, acham. E talvez se acostumasse tanto com a solidão que não mais quisesse repartir os seus silêncios, pensamentos, tristezas e alegrias com alguém especial.
O casamento é uma coisa tão séria, mas tão séria que só se deve cometer uma vez. Se dá certo, óptimo, é para o resto da vida. Se não dá, o mais provavel é que haja falta de vocação. E vocação não se compra, nem se adquire. Então mais vale ir namorando, se apaixonando, sem esperar nada em troca. Para não ter desilusões...

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