27 agosto, 2006

Ainda bem que o Afonso foi trabalhar!


Estava eu muito sossegadinha, quase, quase dormindo, e uso o gerúndio porque é o tempo adequado para o mês de Agosto, estendida na areia, ouvindo música bem baixo, para poder ouvir simultaneamente o suave marulhar das ondas, quando ouço um grito... "Afonso, ainda bem que vieste! Sentia-me tão sózinha... ainda bem que vieste trabalhar! Vou já buscar as minhas coisas para aqui!"
Interrompido o meu sossego, soergui-me na toalha e percebi que o Afonso é o nadador salvador da praia que frequento, a quem costumo cumprimentar com um bom dia, mas que não fazia a mínima ideia que se chamasse Afonso, até porque o homem é espanhol, e segundo já me contou tem andado um bom bocado por esse mundo fora, tendo vindo do México quando chegou a Portugal.
À senhora desesperada de solidão, nunca tinha visto por ali. Tem concerteza mais de 50 anos e é uma mulher ainda interessante. Daquelas que não percebemos porque está tão só, se pelos vistos, tudo o que não quer é estar só.
Porque só está só quem quer... Eu pelo menos sou constantemente incomodada por gente que não gosta de estar só e acha que tenho que os aturar, que ouvir as suas estórias, mesmo que sejam estórias mal contadas, sem convicção e por isso sem interesse.
A verdade é que o Afonso continuou na palheta com o sujeito com quem estava, depois foi fazer o seu trabalho e a nossa solitária lá ficou... pelos vistos basta-lhe saber que o Afonso está presente! Pelos vistos não descobriu ainda que a pior forma de estar só é estar com alguém que nos faz sentir a solidão como um fardo... Porque quando se está só por opção, a solidão é uma benção que se preserva e não um fardo...
Mas, assim como assim, ainda bem que o Afonso foi trabalhar!

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