15 agosto, 2006

Acabou-se a gasolina.


A primeira vez que passei férias no Alentejo, há cerca de 20 anos, levei a minha bicicleta, que utilizava para dar pequenos passeios e ir ao pão de manhã antes que os miúdos acordassem.
Numa dessas manhãs de ida à padaria, ia em sérias dificuldades, uma vez que a rua era a subir, e a bicicleta era do tipo "chocolateira" (ainda hoje continuam a ser para mim as mais encantadoras!). Passou por mim um alentejano e dise-me "ó vizinha: então acabou-se a gasolina?". E com esta saída, a gasolina acabou realmente, porque eu me desmanchei a rir e perdi o resto das forças que tinha para pedalar ladeira acima.
A verdade é que me rendi aos encantos do Alentejo e dos alentejanos. Tenho conhecido muitos ao longo dos anos e acho que o provérbio "alentejanos, algarvios e cães de caça, é tudo a mesma raça", faz todo o sentido, literalmente falando. Quero com isto dizer que gosto tanto dos algarvios como dos alentejanos e dos cães de caça! Porque todos têm uma personalidade forte, um sentido de humor fantástico, uma ousadia impressionantes.
Delicio-me com alentejanos a contarem anedotas de alentejanos. Só prova o quanto inteligentes são. Na minha opinião é fundamental sabermos rir de nós mesmos. Gozarmos com as nossas fraquezas.
Hoje o Alentejo não é o que era... está cheio de forasteiros e muitos dos naturais emigram pois não têm outro remédio para sobreviver. E há uma série de gente desenraízada, que não tem nada a ver com aquilo, que se sente superior, mas que de facto não vale uma unha de um alentejano de gema, que por muito analfabeto que seja, meterá sempre num chinelo os doutores da urbanidade.
E é por isso que não vou tanto para aquela zona como ia. Porque o que mais me interessa em qualquer lugar são as pessoas e a cultura , os costumes e as tradições... E irritam-me todos os "tios" e "tias" que invadiram um espaço que para eles é apenas "pitoresco" e sobretudo barato.
Pois sugiro que deixem o Alentejo aos alentejanos antes que se transforme num novo Algarve, cheio de gente de fora e emigrem para Nova York, Londres, Paris, Roma, Milão... para o raio que os parta. Mas acabem já com esta destruição sem sentido. Não é por manterem a traça das casas que preservam a cultura. Olha-se a 100 metros e distingue-se um alentejano de um forasteiro. E se não conseguem ser "romanos em Roma", desistam e procurem as grandes cidades, com muitos centros comerciais para passearem aos domingos e feriados, e toda a sofisticação dos "health center's".
E façam o favor de serem felizes... fazendo-me também feliz.

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