10 julho, 2006

Conversando, assim.

Sou dada a silêncios. Gosto de falar através do silêncio. O silêncio não é ausência de conversa. O silêncio é a conversa toda, inteira.
É também a melhor forma de mentir... o silêncio: não mente; omite.
É claro que só se consegue ter uma conversa de silêncios feita, com alguém que nos está tão próximo, que nos conhece tão bem, que é capaz de ler os nossos pensamentos (a conversa que temos na cabeça) e que não precisa mais de ser explícita, para existir.
Não sei se haverá muita gente que tenha esta sorte de ter alguém que a ouve sem que seja necessária a canseira de falar.
Sim. Porque falar cansa. Cansa-me falar ao telefone, cansa-me falar ao vivo, cansa-me repetir as palavras, porque afinal o interlocutor está muitas vezes entretido com as sua própria conversa e não presta atenção ao que lhe digo, (a mais das vezes a pedido do próprio). Julgo que a maioria das pessoas se farta de fazer perguntas pessoais, porque entendem que só podem ser delicadas desta maneira.
É claro que isto faz parte da nossa cultura. Quando digo nossa, falo da cultura ocidental, que não é exactamente a minha!
Pois eu procuro alguém que me ouça sem eu ter que falar. Procuro alguém a quem dar respostas sem que me faça perguntas. Procuro alguém que para além de tudo isto, permaneça. Alguém que não se atreva a morrer e a deixar-me só de novo. Porque morrer é partir. Partir para não mais voltar.
Procuro alguém que idolatre o silêncio, como eu... Que o sacralize mesmo.
Os que morreram
não se retiraram.
Eles viajam
na água que vai fluindo.
Eles são a água que dorme.
Os mortos
não morreram.
Eles escutam
os vivos e as coisas
Eles escutam as vozes da água
(Birago Diop)

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