30 novembro, 2007

Trova do vento que passa - Adriano Correia Oliveira (clica aqui)

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não

Os Eunucos


Os eunucos devoram-se a si mesmos
Não mudam de uniforme, são venais
E quando os mais são feitos em torresmos
Defendem os tiranos contra os pais

Em tudo são verdugos mais ou menos
No jardim dos haréns os principais
E quando os mais são feitos em torresmos
Não matam os tiranos pedem mais

Suportam toda a dor na calmaria
Da olímpica visão dos samurais
Havia um dono a mais na satrapia
Mas foi lançado à cova dos chacais

Em vénias malabares à luz do dia
Lambuzam da saliva os maiorais
E quando os mais são feitos em fatias
Não matam os tiranos pedem mais

(José Afonso)

Baixar os braços... jamais.


Ana Brandão não passaria de mais uma funcionária pública, mais uma anónima se não tivesse a infelicidade de ter uma doença grave que a deixa prostrada na cama, onde faz praticamente todos os actos imprescindíveis à sobrevivência do se humano, desde a alimentação à higiene. Continuaria a ser uma anónima funcionária pública não se desse o caso de ter sido dada como apta para o trabalho por duas vezes por Juntas Médicas da Caixa Geral de Aposentações.
Da primeira vez que foi dada como apta, apresentou-se ao serviço acompanhada por familiares uma vez que não é capaz de se locomover sozinha nem para ir à casa de banho como já percebemos... esteve umas horas no seu posto de trabalho sem nada fazer, uma vez que nada consegue fazer.
Interveio então sensatamente o senhor ministro das finanças deste nosso tão pequeno país e ordenou que se realizasse uma segunda Junta Médica para avaliar a saúde daquela mulher que ele viu com seus próprios olhos que é incapaz de tratar de si quanto mais de trabalhar...
Agora a segunda Junta Médica dá de novo esta mulher como apta para o serviço. Ela queria cumprir a ordem mas esta manhã não foi capaz de se levantar. Portanto não foi trabalhar...
Quem é capaz de me explicar porque se quer obrigar uma pessoa incapaz, a ocupar um posto de trabalho? Ocupar sim, porque infelizmente ela não pode trabalhar...
Os restantes membros da Junta de Freguesia dizem que se demitirão se esta situação não for resolvida. Não creio que consigam ajudar Ana Brandão com esta atitude tão bonita, mas pelo menos tentam, deitam achas para a fogueira, fazem o mesmo que eu e todos os anónimos funcionários públicos deste país que hoje fizeram greve: não baixam os braços.

29 novembro, 2007

Só Neste País - Sérgio Godinho (clica aqui)

Por isso unamo-nos
Nós somos os famosos anónimos
Mesmo assim já cumprimos os mínimos
Somos todos únicos
Que mais vão querer de nós
P'ra provar quem vai à frente
Ou fica atrás...

Traz outro amigo também

Amigo
Maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também

Em terras
Em todas as fronteiras
Seja benvindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também

Aqueles
Aqueles que ficaram
(Em toda a parte todo o mundo tem)
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também

(José Afonso)

Eu faço greve.


Neste dia em que se prepara mais uma greve geral, a uma funcionaria de um junta de freguesia com variadíssimos e complicados problemas de saúde que a impedem de viver o dia a dia de uma forma autónoma, necessitando do auxílio constante de terceira pessoa até para se deslocar à casa de banho, é obrigada a apresentar-se ao serviço, porque os médicos entendem que ela é muito nova para ser reformada...
A minha indignação perante este tipo de situações cresce todos os dias, porque todos os dias se nos deparam situações deste tipo. E se fosse um de nós? E se o azar nos bate à porta? E se ficamos incapacitados e nos obrigam a apresentar-nos no local de trabalho só porque somos demasiado novos para que uma junta constituída por médicos que quero acreditar sejam isentos mas que não consigo acreditar sejam humanos... e se esses médicos são superiormente pressionados a agir assim e não têm força ou não querem simplesmente enfrentar mais problemas do que os que já têm?
Hoje é dia de pensar muito bem se devemos continuar a acatar tudo o que nos impõem. Eu não acato. Amanhã faço greve. Não vou inventar uma doença para faltar, não José. EU FAÇO GREVE contra todas as arbitrariedades que vêm sendo cometidas neste país contra as pessoas sejam elas trabalhadores do Estado eu de empresas privadas.
EU FAÇO GREVE.

28 novembro, 2007

Nossa canção - Vanessa da Mata (clica aqui)


Veja bem, foi você
A razão e o porquê
De nascer está canção assim
Pois você é o amor
Que existe em mim...

Ode à incompreensão


De todas estas palavras não ficará, bem sei,
um eco para depois da minha morte
que as disse vagarosamente pela minha boca.
Tudo quanto sonhei, quanto pensei, sofri,
ou nem sonhei ou nem pensei
ou apenas sofri de não ter sofrido tanto
como aterradamente esperara -
nenhum eco haverá de outras canções
não ditas, guardadas nos corações
alheios, ecoando abscônditas ao sopro do poeta.

Não por mim. Por tudo o que, para ecoar-se,
não encontrou eco. Por tudo o que,
para ecoar, ficou silencioso, imóvel -
- isso me dói como se ausência a música
não tocada, não ouvida, o ritmo suspenso,
eminente, destinado, isso me dói dolorosamente, amargamente, na distância
do saber tão claro, da visão tão lúcida,
que para longe afasta o compassado ardor
das vibrações do sangue pelos corpos próximos.

Tão longe, meu amor, te quis da minha imperfeição,
da minha crueldade, desta miséria de ser por intervalos
a imensa altura para que me arrebatas
- meu palpitar de imagem à beira da alegria,
meu reflexo nas águas tranquilas da liberdade imaginada-,
tão longe, que já não meus erros regressassem
como verdade envenenando o dia a dia alheio.

Tão longe, meu amor, tão longe,
quem de tão longe alguma vez regressa?!

E quem, ó minha imagem, foi contigo?
(De mim a ti, a mim,quem de tão longe alguma vez regressa?)

(Jorge de Sena)

a menina que iluminou o meu dia


foi por acaso que esta manhã quando me levantei e olhei para o espelho pensei estou farta de mim, estou farta da minha cara, já não aguento esta coisa de me olhar todos os dias e não ver nada de que goste, não é bem isso, eu até gosto de mim mas estava farta de me ver com a mesma cara... vai daí liguei para a minha cabeleireira a ver se ela podia atender-me ao fim da tarde, que sim como sempre é uma querida, consegue sempre arranjar um furo onde me meter e lá fui eu logo que saí do emprego direitinha ao salão...
e há coincidências? no salão estava uma menina com trisomia 21, linda como uma estrela. conversadora queria falar com toda a gente e contar como eram os meninos na escola dela, as maldades que fazem e que ela não faz e fazendo pose quando lhe perguntei o queria ser quando fosse grande, respondeu muito segura de si, quero ser modelo. esta menina tem 6 anos e o tamanho de uma menina de 4. é simplesmente encantadora e eu que conheço várias crianças com esta característica, espanto-me sempre quando penso que há mães que resolvem interromper a gravidez quando sabem que terão uma criança assim.
felizmente a mãe desta criança deixou-a nascer. uma bênção para os olhos e para os sentidos. e iluminou o meu dia.

27 novembro, 2007

1973 - James Blunt (clique aqui)

Simona
You're getting older
Your journey's been
Etched on your skin

SimonaWish I had known that
What seemed so strong
Has been and gone

A educação pela pedra


Uma educação pela pedra: por lições;
para aprender da pedra, freqüentá-la;
captar sua voz inenfática, impessoal
pela de dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
ao que flui e a fluir, a ser maleada;
a de economia, seu adensar-se compacta:
lições de pedra (de fora para dentro,
cartilha muda), para quem soletrá-la.
Outra educação pela pedra: no Sertão
(de dentro para fora, e pré-didática).
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
e se lecionasse não ensinaria nada;
lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
uma pedra de nascença, entranha a alma.


(João Cabral de Melo Neto)

um menino jesus de pé sujo... o meu!


o miúdo brinca com um burro que ri e canta e a senhora sentada ao meu lado diz-lhe que se não se portar bem o menino jesus não lhe traz brinquedos. finjo continuar a ler mas tomo atenção ao que a senhora ao meu lado vai dizendo ao casal sentado à nossa frente, eu era muito parva, já andava na escola e ainda acreditava que o menino jesus me trazia os presentes e mesmo quando os meus colegas me disseram que o menino não tinha nada a ver com aquilo, foi difícil acreditar, pois como é que a minha mãe podia dar-me tantos presentes se vivíamos com tantas dificuldades... mas também cheguei a pensar coisas muito más do menino jesus que todos os anos dava a uma menina muito má que era minha vizinha brinquedos muito melhores do que me dava a mim...
sorrio para mim mesma e lembro-me que aos 5 anos acreditava piamente que era o menino jesus que me trazia os presentes. quando todos dormiam eu ia sentar-me na escada que dava para a sala à espera que ele aparecesse, queria tanto vê-lo! e acabava sempre adormecendo com a cabeça encostada à parede... uma manhã os meus pais desceram as escadas em silêncio puseram os presentes na chaminé e despertaram-me do sono que me pregava às escadas... e quando me disseram que eu tinha que ir para a cama senão o menino jesus não vinha eu jurei a pés juntos que ele já tinha vindo e que eu só tinha acordado quando ele já trepava pela chaminé e então só pude ver o pezinho sujo do menino jesus...

26 novembro, 2007

Para ver as meninas - Marisa Monte (clica aqui)

Hoje eu quero apenas
Uma pausa de mil compassos
Para ver as meninas
E nada mais nos braços
Só este amor
assim descontraído

Para atravessar contigo o deserto do mundo


Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei

Por ti meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento

(Sophia de Mello Breyner Andressen)

no comboio da linha de Cascais


é uma figura estranha de mulher, estranha na sua obesidade, no seu corpo mal feito, no cheiro que exala, mas sobretudo no sotaque e talvez na voz, ou são o sotaque e a voz que fazem dela aquele conjunto estranho de meio gente meio bicho e contudo o discurso mais ou menos coerente, vai perguntando a outra mulher atrás de mim se trabalha no Cais do Sodré e a outra que sim, depois pergunta se vive em Caxias e a outra que sim e ela explica que aquele comboio não pára em Caxias e portanto será necessário mudar em Algés e vai dizendo a propósito de nada, só porque lhe apetece suponho, o meu namorado já morreu e o meu pai também, morreu em Maio, de ataque de coração mas fico sem saber quem morreu do coração o pai ou o namorado porque ela vai ligando frases assim de um modo estranho como ela... quando a outra sai ela cala-se, portanto não é uma tonta, é alguém que não fala sozinho (como eu por exemplo) não definitivamente não é uma tonta, apenas uma pessoa bem estranha que fala muito alto com uma voz e um sotaque estranhos, que se percebe o que diz embora vá ligando assuntos que para mim não têm qualquer seguimento e volta atrás repete o meu namorado morreu e o meu pai também morreu em Maio... e eu penso que estou a ouvir um romance de António Lobo Antunes e penso se as suas personagens foram retiradas da vida real, foram com toda a certeza como a mulher que hoje animou o fim de tarde de pelo menos 40 pessoas numa carruagem de comboio da linha de Cascais...

25 novembro, 2007

Pois é - Clã (clica aqui)

olhos abertos a ler a situação
e reclamar, e reclamar um pouco de atenção
ao que de mais humano há na nossa condição
menos cegueira, economia e mais educação

Mais uma noite, amor


Mais uma noite, amor. Ao recordar-te
retomo os fins do mundo, a cinza, os dias
manchados de outras lágrimas. Sabias
como eu a cor das sombras, essa arte

que nos engana agora e se reparte
por esquinas e cafés. Já não me guias
os muitos passos vãos, as fantasias
da minha falsa vida. Vou deixar-te

fugindo-me. Na chuva, sem ninguém,
apenas alguns vultos, o que vem
«e dói não sei porquê» - este deserto

onde te vejo, imagem outra vez,
até de madrugada. O que me fez
sentir o muito longe aqui tão perto?

(Fernando Pinto do Amaral)

uns para os outros ou viva a geração espontânea!


ai a família, balha-me deuje, que às vezes o que eu queria mesmo era ver o pessoal a nascer de geração espontânea, eu sei, meus filhos não fiquem ofendidos mas é que ele há dias assim em que a gente se arrepende de juntar a família... realmente 6 crianças entre os 12 e os 2 anos é uma grande trabalheira. e nem sequer são os mais pequenos que nos dão cuidados. nem os rapazes. mas a "menina" que se esperaria fosse uma princesa numa família onde só nascem machos é pior que eles todos juntos. com o seu ar de santarrona faz cada birra que deuje me balha... e não é que os pais não a ponham na ordem é só que ela consegue ser pior que eu... pois consegue. e olhem que não é fácil. casmurra até dizer basta, a cachopa hoje deixou-me com os nervos em franja e cheia de vontade de lhe dar uns belos açoites naquele rabo, a ver se... mas qual quê. depois de massacrar os pais põe-se a massacrar os irmãos, o mais novo parece um anjinho, é um anjinho ternurento que só quer abraçinhos, beijinhos e colinho... e ali esteve ao meu colo a tarde inteira, refugiado dos acessos de mau humor da princesa... será que há princesas más? deve haver... desculpa lá Inês eu gosto muito de ti, mas olha que hoje passaste todas as marcas e não há tia que aguente...
fim do dia a tomar chá em frente ao mar com um amigo, passou-me a dor de cabeça, nada como um fim de tarde com chá de canela num bar aconchegante onde me sinto em casa e em boa companhia.
obrigada amigo por me teres aturado, mas sabes como é, isto temos que ser uns para os outros....

24 novembro, 2007

Carinhoso - Joao Gilberto (clica aqui)


Meu coração, não sei por que
Bate feliz quando te vê
E os meus olhos ficam sorrindo
E pelas ruas vão te seguindo
Mas mesmo assim
Foges de mim

Vestígios


noutros tempos
quando acreditávamos na existência da lua
foi-nos possível escrever poemas e
envenenávamo-nos boca a boca com o vidro moído
pelas salivas proibidas - noutros tempos
os dias corriam com a água e limpavam
os líquenes das imundas máscaras

hoje
nenhuma palavra pode ser escrita
nenhuma sílaba permanece na aridez das pedras
ou se expande pelo corpo estendido
no quarto do zinabre e do álcool - pernoita-se

onde se pode - num vocabulário reduzido e
obcessivo - até que o relâmpago fulmine a língua
e nada mais se consiga ouvir

apesar de tudo
continuamos e repetir os gestos e a beber
a serenidade da seiva - vamos pela febre
dos cedros acima - até que tocamos o místico
arbusto estelar
e
o mistério da luz fustiga-nos os olhos
numa euforia torrencial

(Al-Berto)

estás a brincar comigo, não estás?


conversando com o meu neto mais velho veio à baila a programação das televisões e com isso a série "conta-me como foi", que eu tenho o hábito de ver e que considero que está muito bem feita e apanha bem o retrato do Portugal pré 25 de Abril... não sei até que época a série irá tirar o retrato mas o que tenho visto até agora, embora não tenha muito a ver com a realidade da minha infância uma vez que não cresci em Portugal, ou melhor, cresci em Portugal sim senhor, uma vez que Angola era uma província (a maior) de Portugal... pois para o Pedro a série é para rir. claro. o Pedro tem 10 anos por enquanto e as crianças da sua geração não percebem muito bem que os bisavós não tinham televisão porque não havia televisão, que os avós durante muitos anos viram televisão e cinema a preto e branco, que muitas das casas de Lisboa nem casa de banho tinham, quanto mais um aquecimento decente... para o meu neto não é normal que eu só tenha começado a ter contacto com o computador alguns anos antes dele nascer (e quando comecei, a maior parte das pessoas achava que isto era um bicho de sete cabeças e que só uma louca como eu podia achar que era uma ferramenta de trabalho)
falando nisso, há nove anos aquando de uma mudança de emprego, as minhas colegas achavam que fazer ofícios em PC era uma coisa complicadíssima que só atrasava o trabalho. mudar as mentalidades não foi fácil, mas hoje estamos todos de acordo quanto à imprescindibilidade desta máquina como ferramenta de trabalho...
se o meu neto ler isto (acho que não lê, pertence a geração resumo e mais de 5 linhas já é demais para ler) dirá, avó estás a brincar comigo não estás?

23 novembro, 2007

The Dock Of The Bay - Otis Redding (clica aqui)


So I'm just go sit on the dock of the bay
Watching the tide roll away,
I'm sittin' on the dock of the bay,
Wasting time

Noites africanas

Noites africanas langorosas,
esbatidas em luares...,
perdidas em mistérios...

Há cantos de tunguruluas pelos ares!...
Noites africanas endoidadas,
onde o barulhento frenesi das batucadas,
põe tremores nas folhas dos cajueiros...

Noites africanas tenebrosas...,
povoadas de fantasmas e de medos,
povoadas das historias de feiticeiros
que as amas-secas pretas,
contavam aos meninos brancos...

E os meninos brancos cresceram,

e esqueceram as histórias...

Por isso as noites são tristes...
endoidadas, tenebrosas langorosas,
mas tristes...
como o rosto gretado,
e sulcado de rugas, das velhas pretas...,
como o olhar cansado dos colonos,
como a solidão das terrasenormes mas desabitadas...

É que os meninos brancos...
esqueceram as histórias,

com que as amas-secas pretas
os adormeciam, nas longas noites africanas...

Os meninos brancos...esqueceram!...

(Alda Lara)

a minha avó que gostava de pretos

observava todas as tardes a minha avó, apoiada no portão do jardim, olhando, olhando... o quê não percebia uma vez que a única vista que existia era a vista normal de uma rua de vivendas... quer de uma lado quer do outro, sempre o mesmo... vivendas.
um dia resolvi perguntar porque ela ficava ali todos os dias àquela hora, cheguei a pensar que esperava um namorado como a minha irmã e as amigas dela. mas não. a minha avó explicou-me que estava ali, a ver os pretos. e as pretas. pois é. a minha avó aproveitava o fim de tarde para observar o regresso dos pretos ás suas cubatas nos musseques para lá dos limites da cidade branca.
pode parecer que estou a querer ser ofensiva, mas a verdade é que era assim. chamavam-se pretos e não negros ou africanos como hoje como se o adjectivo mude alguma coisa na sociedade. pois é. não muda já todos demos por isso. a minha avó ficava a ver os pretos como ela dizia mas eu descobri mais tarde que ela estava verdadeiramente interessada mesmo era nas pretas.
gostava de costurar a minha avó e nada havia que ela não fosse capaz de fazer com um pedaço de pano, um dedal e uma agulha.
e foi assim que quando fiz 5 anos a minha avó me ofereceu uma bela boneca preta, trajada a rigor de panos, com o filho preso às costas.
quando a minha mãe lhe disse que aquilo era um disparate ela fez uma boneca de duas caras, de um lado branco com vestido de pano ocidental e do outro preta com os panos de Angola. o lado da cara preta era muito mais bonito com todo o seu colorido.
quando regressou a Lisboa por não se dar bem com o clima tropical e quando eu a visitava de férias por aqui ela perguntava-me sempre se as pretas ainda se vestiam assim.
pois é avó, agora são poucas as pretas que se vestem assim e também já não precisas de ir a nenhum país africano para ver os pretos de que tanto gostavas...

22 novembro, 2007

Conversa de Botequim -Maria Rita - (clica aqui)


Seu garçom faça o favor de me trazer depressa
Uma boa média que não seja requentada
Um pão bem quente com manteiga à beça
Um guardanapo e um copo d'água bem gelada
Feche a porta da direita com muito cuidado
Que eu não estou disposto a ficar exposto ao sol
Vá perguntar ao seu freguês do lado
Qual foi o resultado do futebol

O amor é o amor

O amor é o amor
- e depois?
Vamos ficar os doisa imaginar, a imaginar?...

O meu peito contra o teu peito
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!

Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos - somos um? somos dois?
-espírito e calor!

O amor é o amor - e depois?


(Alexandre O'Neill)

lá que as há... há.

éramos um grupo de amigos na adolescência com pouca coisa com que se entreterem Lá íamos à costa da Caparica onde acampávamos fosse Verão ou Inverno, mas tirando isso no tempo que nos restava entre estudos e trabalho não havia muito que fazer. Decorria a segunda guerra mundial e apesar da animação de estrangeiros na cidade queríamos divertir-nos e não havia dinheiro porque o que ganhávamos era para ajudar em casa que o tempo era de escassez, de racionamento...
e foi assim que um dia o Jorge nos disse que a mãe lhe tinha dito que a guerra estava a acabar e que os alemães a iam perder... nenhum de nós acreditava muito nestes vatícinios de uma mulher que do alfabeto só sabia assinar o nome. mas o Jorge garantia que a mãe lhe contara que alguns espíritos lhe tinham assegurado isso mesmo.
foi assim que descobrimos que a mãe do Jorge fazia, na sua casa de Alcântara, sessões de pé de galo. um de nós, não me lembro quem, lembrou-se de que podíamos gastar algum do tempo que nos sobrava assistindo a uma das sessões da mãe do Jorge.
combinado o dia e a hora, lá fomos todos para Alcântara à casa do Jorge que ficava numa cave escura com uma série de degraus.
quando chegámos já a sessão estava iniciada e a mesa pé de galo ia respondendo às perguntas dos dos clientes da mãe do Jorge.
assim que um de nós soltou uma gargalhada pela interpretação dada às respostas da mesa pé de galo, ela começou a mover-se de encontro a nós e só parou depois de ter trepado todos os degraus atrás de nós que só parámos a 200 metros da casa do Jorge, completamente apavorados e sem nenhuma vontade de rir...
foi assim que descobrimos que não acreditávamos em bruxas... mas que as há... lá isso há!

21 novembro, 2007

Oração ao Tempo - Caetano Veloso (clica aqui)

Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo Tempo Tempo Tempo
Entro num acordo contigo
Tempo Tempo Tempo Tempo
Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo Tempo Tempo Tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo Tempo Tempo Tempo

Oh as casas as casas


Oh as casas as casas as casas
as casas nascem vivem e morrem
Enquanto vivas distinguem-se umas das outras
distinguem-se designadamente pelo cheiro
variam até de sala pra sala
As casas que eu fazia em pequeno
onde estarei eu hoje em pequeno?
Onde estarei aliás eu dos versos daqui a pouco?
Terei eu casa onde reter tudo isto
ou serei sempre somente esta instabilidade?
As casas essas parecem estáveis
mas são tão frágeis as pobres casas
Oh as casas as casas as casas
mudas testemunhas da vida
elas morrem não só ao ser demolidas
Elas morrem com a morte das pessoas
As casas de fora olham-nos pelas janelas
Não sabem nada de casas os construtores
os senhorios os procuradores
Os ricos vivem nos seus palácios
mas a casa dos pobres é todo o mundo
os pobres sim têm o conhecimento das casas
os pobres esses conhecem tudo
Eu amei as casas os recantos das casas
Visitei casas apalpei casas
Só as casas explicam que exista
uma palavra como intimidade
Sem casas não haveria ruas
as ruas onde passamos pelos outros
mas passamos principalmente por nós
Na casa nasci e hei-de morrer
na casa sofri convivi amei
na casa atravessei as estações
Respirei – ó vida simples problema de respiração
Oh as casas as casas as casas


(Ruy Belo)

querido PC

e depois há os dias assim, que começam bem porque sonhámos com gente que não conhecemos mas que nos quer muito bem, caras que nunca vimos, vozes que nunca ouvimos, nomes que desconhecemos e no entanto
gente que nos ama mesmo que apenas em sonhos
e nada nos pode correr mal o trabalho sai das mãos como a chuva que cai o transito não incomoda porque nós caminhamos nada pode correr mal
e almoçamos com uma amiga muito querida que também está em dia sim e nos conta estórias de outros tempos, estórias do tempo em que não tínhamos nascido, estórias dos pais, dos tios dos avós
e nada pode acontecer de mal num dia assim o computador bloqueia e eu nem me ralo, logo desbloqueará pois então, não sonhou como eu, não teve um dia feliz como eu, esteve para aqui só e abandonado e quando eu chego quer mostrar que está zangado comigo, porque afinal não o considero o meu melhor amigo mas apenas uma ferramenta e as máquinas, pelo menos esta minha máquina tem sentimentos, pois claro que tem
e então termino esta prosa dizendo meu querido PC que gosto muito de ti, sobretudo quando não fazes as tuas birras e te aguentas como gente grande sobretudo...

20 novembro, 2007

Coisas que eu sei - Danni Carlos (clica aqui)

Coisas que eu sei
Eu adivinho sem ninguém ter me contado
Coisas que eu sei
O meu rádio relógio mostra o tempo errado
Aperte o 'Play'

Título por haver


No meu poema ficaste
de pernas parao ar
(mas também eu
já estive tantas vezes)

Por entre versos vejo-te as mãos
no chão

do meu poema
e os pés tocando o título
(a haver quando eu
quiser)

Enquanto o meu desejo assim serás:
incómodo estatuto:
preciso de escrever-te
do avesso
para te amar em excesso

(Ana Luisa Amaral)

A mala que a minha avó me fez...

A minha avó fez-me uma mala de sarja castanha com compartimento para os lápis. É o meu primeiro dia de escola e eu sei que nenhuma menina terá uma mala tão bonita como a minha. Porque foi a minha avó que fez e ninguém faz malas tão bonitas e tão boas como a minha avó. É por isso que quero chegar depressa à escola, para mostrar a minha mala às outras meninas e à professora.
Agora estou na escola. A mala de sarja está em cima da carteira. Como sou a mais pequena a professora sentou-me à frente e eu estou muito aflita e também muito envergonhada, mas quero que todas vejam a minha mala de sarja. A mala que a minha avó me fez com compartimento para os lápis.
Mal consigo responder às perguntas da professora. Acho que nem sei dizer o meu nome nem quantos anos tenho. De repente esqueci-me de tudo e tenho um nó na garganta que ameaça sufocar-me e impedir-me de respirar.
A professora percebe a minha infelicidade e dirige-me algumas palavras carinhosas. Daí a pouco diz que eu posso sair. No recreio da escola está a minha avó.
Corro e abraço-a. Avó a minha mala é a mais bonita de todas, viste?

19 novembro, 2007

Bad Day - Daniel Powter (clica aqui)

So where is the passion when we needed the most
Oh you and I
You kick up the leaves and the magic is lost

Cause you had a bad day

Não


Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
E um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.
Não. Cansaço por quê?
É uma sensação abstrata
Da vida concreta —
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Sim, ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...
Como quê?...
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.
(Ai, cegos que cantam na rua,
Que formidável realejo
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)
Porque oiço, vejo.
Confesso: é cansaço!...
(Àlvaro de Campos)

Hoje fico mesmo por aqui


Há dias assim. Assim como? Pois dias menos bons que a gente vai levando o melhor que pode, valorizando o que deve ser valorizado e desvalorizando o que não nos interessa. Mas que há dias difíceis isso há.
Acho que ninguém gosta de começar um dia com uma noite mal dormida ou pelo contrário estou enganada? Bem já que ninguém me passou uma procuração falo mesmo por mim e que se lixe... quem não estiver de acordo, pois claro é normal se gostássemos todos do azul o que seria do amarelo (nunca percebi porque é que o amarelo está tão mal visto, bem vistas as coisas é uma cor tão bonita quanto qualquer outra, mas então, cá estou eu para contrariar)... o que é que eu estava a dizer mesmo... ah sim falava de começar o dia com muito pouca vontade, de chegar ao emprego e receber uma prenda linda de uma colega, de voltar a murchar porque o sono era muito e o esforço para fazer qualquer coisa que se visse foi grande, mas depois foi melhorando ao longo do dia e ao fim da tarde ainda tive o mimo de um chá de laranja feito por outra colega que teve o dom de me adormecer no comboio (qualquer dia vou parar a Cascais, já andei mais longe, pois se eu até durmo em pé basta encostar-me...)
Mas conduzir em Lisboa em dias de chuva não é brincadeira... às 9 da noite ainda a A5 estava entupida cheguei a casa agora estou zonza, não me apeteceu comer nada, só um café para despertar o suficiente para passar por aqui e deixar o meu testemunho diário... Amanhã pode ser que saia qualquer coisa de jeito mas hoje fico mesmo por aqui...

18 novembro, 2007

Redondo vocabulo - José Afonso/ Cristina Branco (clica aqui)

Nos degraus de Laura
No quarto das danças
Na rua os meninos
Brincando e Laura
Na sala de espera
Inda o ar educa

O sol nas noites e o luar nos dias


De amor nada mais resta que um Outubro
e quanto mais amada mais desisto:
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.

E sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo.
Por dentro me ilumino, sol oculto,
por fora te ajoelho, corpo místico.

Não me acordes. Estou morta na quermesse
dos teus beijos. Etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.

Mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem.

(Natália Correia)

A meteorologia anuncia.


Enquanto caminho à beira mar e reparo na alteração que ele sofreu de ontem para hoje, melhor dizendo das ultimas semanas, que parecia estar sempre maré baixa, tal era a calmaria e hoje galgou o paredão, vou pensando também na falta que me fazem os teus olhos, esses olhos que me guiavam nestas pequenas coisas que eu considero tanto e que me sabiam explicar a ligação entre cada coisa, o mar, as estrelas, o tempo, quem diria que um dia eu olharia o céu e não saberia dizer que tempo estará amanhã, é verdade que não há estrelas no céu, mas também é verdade que assim à primeira vista ninguém acreditaria que amanhã estará mau tempo, que há-de chover bastante, que haverá trovoadas, o único sinal é mesmo o facto de estar menos frio hoje que ontem mas todo o mês esteve calor e nem por isso choveu antes pelo contrário, por isso é que há uma ciência a que chamamos meteorologia, de facto há 30 anos eu não precisava da meteorologia para coisa nenhuma a não ser para saber que havia um anticiclone nos Açores que todos os dias afectava o tempo por aqui no contenente como dizem os nossos compatriotas lá em S. Miguel que é uma ilha verde onde vivi o tempo suficiente para apanhar uma febre reumática que hoje me causa alguns transtornos que vou ultrapassando pensando que há gente que tem muito mais de que se queixar, afinal sou uma felizarda...
Amanhã há-de chover. E eu hei-de matar as saudades que tenho de caminhar à chuva e ficar molhada até aos ossos e depois chegar a casa e tomar um duche bem quente e perceber como sou feliz por ter um abrigo decente quando há tanta criança a nascer por esse mundo fora sem saber que não tem um lar.

17 novembro, 2007

Estás a ver - Gabriel o Pensador (clica aqui)


Uma luz acendendo, uma barriga crescendo
Uma criança nascendo, obrigado senhor
Seja lá quem for o senhor
Seja lá quem for a senhora
A quem quiser me ouvir e a mim mesmo
Preciso dizer tudo que eu estou dizendo agora
Preciso acreditar na comunicação
Não há melhor antídoto pra solidão

Balada da neve


Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva?
Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco,
há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...

Quem bate,
assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve,
mal se sente?
Não é chuva,
nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver.
A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve,
branca e fria...
– Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e,
quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...

E descalcinhos,
doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim,
fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.

(Augusto Gil)

Mas as crianças, Senhor...

Falo contigo porque sei que ficarias tão indignada quanto eu perante a notícia de tentativa de levar setenta e cinco crianças da Guiné Bissau para o Senegal para trabalharem na apanha do algodão, segundo uns, para praticarem a mendicidade segundo outro.
Resumindo: as crianças foram entregues pelos pais a uma escola islâmica que se comprometeu a ensinar-lhes o Corão. Segundo os professores não há dinheiro para sustentar tantas bocas, por isso seriam enviadas para o Senegal para ganharem o seu próprio sustento... crianças de 5 anos, como é que é possível no século 21, não há lei islâmica que me faça perceber que isto é possível, eu conheço a apanha do algodão, é trabalho pesado, qualquer trabalho é pesado para as crianças como é que é possível?
Se esta gente não tem condições para receber as crianças nas escolas porque as recebem? É evidente que a estória está muito mal contada, está à vista de todos que se trata de mais um caso de escravidão e, neste caso nem sequer é uma questão de cor de pele, é um povo que quer viver à custa das suas próprias crianças, daqueles que representam o futuro de um país tão miserável quanto a Guiné e tão cheio de gente corrupta, sei que não é bom estar aqui a dizer estas coisas, o senhor Vieira não gosta que se digam estas coisas mas a verdade é que a começar por ele a lista não tem fim...
Mas ao menos para calarem a opinião pública, nem que seja só por isso, já que não conseguem respeitar mais nada, pelo menos senhores, respeitem as vossas crianças.

16 novembro, 2007

Mulher de 40 - Roberto Carlos (clica aqui)

(Para a Odete Cristina, por mais de 9 anos de camaradagem e por tudo o que me ensinou, com um abraço bem apertado. Boa sorte!)

Não importa a idade, a felicidade, chega um dia que vem.
Se ela vive feliz ou espera de novo encontrar outro alguém
Se ela se distrai uma lágrima cai ao lembrar do passado
Seu olhar distante vai por um instante a um tempo dourado
Retoca a maquiagem, cheia de coragem, essa mulher bonita
Que já não é menina, mas a todos fascina e a mim me conquista

Um verso vem


Um verso vem. Calculo o peso da neblina
que envolve o seu teor, o preso ritmo
da esfera em movimento: cerro o olhar na alma tensa
que ao longo do percurso mais ensina. O verso
vem por si em si da imagem que vier
no imaginar do corpo em sua ascese leve, peso
de uma estrutura fina ao seu redor.
Um verso vem. O olhar na alma mais se inclina.

(Luís Adriano Carlos)

Porque não te calas...


Acabo de ouvir no telejornal que a taxa de desemprego em Portugal no 3º trimestre do ano foi de 7,9% e logo de seguida vejo o José a dizer que o governo está a trabalhar bem. Vem o Silva e diz que o governo está a trabalhar bem. Já faltou mais para baterem nas costas um do outro e dizerem porreiro pá, porreiro... a mim apetece-me dizer como o rei Juan Carlos, porque não te calas, de cada vez que ouço um destes josés e silvas e luíses e constancios e o resto da pandilha... palavra que me apetece, mas pronto sou uma simples plebeia e só agora percebi que afinal ser rei também há-de ter o seu lado bom como tudo nesta vida e acho que o grande momento da vida de Juan Carlos enquanto rei, foi certamente aquele porque não te calas, na cimeira ibero americana, dirigido ao senhor Chaves que está mesmo a ver-se vai fazer a vida negra aos empresários espanhóis na Venezuela e isso vai criar dificuldades ao país hermano, porque não são uma nem duas as empresas espanholas na terra do senhor Chaves que foi eleito presidente sim senhor mas quer arranjar maneira de continuar no poder eternamente sem ter que se submeter de novo a eleições...
Mas afinal para onde vou eu, balha-me deuje que quando começo a falar de política fico toda baralhada e depois falo de coisas que nem me tinham passado pela cabeça... Por isso,
Começou hoje em Portugal a recolha de assinaturas para que seja discutido na assembleia da república (antigamente escrevia isto com maiúsculas, se a professora Berta fosse viva, estrangulava-me, mas realmente as maiúsculas não são para serem desbaratadas assim de qualquer maneira com gente como josés e silvas e pedros). Por isso se vos pedirem uma assinatura para este baixo assinado não hesitem. Nunca se sabe quando chegará a nossa vez... com esta gente que nunca se cala, nunca se sabe, nunca se sabe...

15 novembro, 2007

Same Mistake - James Blunt (clica aqui)

And maybe someday we will meet
And maybe talk and not just speak
Don't buy the promises 'cause
There are no promises I keep,
and my reflection troubles me so here I go

Fragrancia de lilas


Claros atardeceres de mi lejana infancia
que fluyó como el cauce de unas aguas tranquilas.
Y después un pañuelo temblando en la distancia.
Bajo el cielo de seda la estrella que titila.
Nada más. Pies cansados en las largas errancias
y un dolor, un dolor que remuerde y se afila.
...Y a lo lejos campanas, canciones, penas, ansias,
vírgenes que tenían tan dulces las pupilas.
Fragancia de lilas...
(Pablo Neruda)

Só mesmo para chatear o José.


Pois é. Continuo a não perceber porque se festejam os aniversários. Para mim é simples, quanto menos confusão melhor, um dia assim, sossegadinho é tudo o que eu peço, é claro que sabe bem receber mais chamadas, sms e emails do que o costume, sobretudo daquelas pessoas de quem não estávamos à espera que se lembrassem de nós, mas depois para compensar, existem os que estávamos à espera que não esquecessem, mas esquecem, pois paciência, sei que inventarão ou terão realmente uma boa desculpa depois, se algum dia chegarem a perceber que se esqueceram... é a vida não há nada a fazer, de qualquer modo não acho piada a esta coisa dos aniversários, vá lá que este ano o dia esteve bom, deu para fazer uma longa caminhada, aproveitando para reflectir um pouco...
E cheguei à conclusão que, se não sinto necessidade de festejar aniversários é porque há muito tempo que festejo diários que é muito mais interessante, porque é diariamente que vamos construindo a vida, fazendo as escolhas possíveis, nem sempre são as mais correctas mas então, o que é preciso é que não me arrependa de nada como até agora.
Se conseguir viver mais 50 anos sem me arrepender do que quer que seja que tenha feito, já me dou por satisfeita... mas se puder viver mais 100, já pensaram bem o que seria, a quantidade anos que o José teria ainda para me pagar a reforma? Isso é que me dava cá um gozo!
Só mesmo para chatear o José....

No dia do meu aniversário

Como sempre foste o primeiro. Perfeitamente imbatível, no ano em que não o fores ficarei preocupada, pensando que adoeceste ou coisa no género e ninguém me avisou, com essa mania que toda a gente tem de me poupar do que não deve e contar o que não deve...
Nunca gostei de aniversários, tu sabes, mas nos anos em que estivemos juntos, tu vivias com tanto gosto os meus aniversários (aqui para nós que ninguém nos ouve, era porque nessa altura do ano eu ficava um ano mais próxima da idade que me separa de ti?) Claro que não. Era porque tu gostas de festejar, achas que os aniversários são importantes e o meu era tão importante que começavas a dar-me presentes de véspera e só acabavas no dia seguinte. Acabei por achar, nesses anos, que afinal os aniversários não eram assim uma coisa tão ruim. Mas hoje voltaram a ser ruins. Cada vez mais ruins porque me faltam as pessoas que mais amei neste mundo, umas de uma maneira e as outras de outra, e há coisas que não se recuperam por muito que queiramos, de ti ficou essa terna amizade que te agradeço, esse cuidado em que estás sempre com o meu bem estar, essa ternura que nunca há-de morrer, ainda que os anos passem e estejas assim, como todos nós um pouco mais velho... No meu coração terás sempre um dos lugares mais importantes se é que há que lugares mais importantes no coração de cada um de nós, para mim ou trazemos as pessoas no coração ou não, mas hoje que estou tão triste como sempre que faço anos, quero dedicar-te esta prosa, para que saibas que sempre te amarei.

14 novembro, 2007

Have You Ever Seen The Rain - Rod Stewart (clica aqui)

Yesterday, and days before,
Sun is cold and rain ishot,
I know;
Didn't I pay for all my time.
And forever, on it goes Through the circle, fast and
slow,I know; It can't stop, I wonder.