14 outubro, 2008

como nos filmes a preto e branco


sinto-me tão triste tão desalentada com tão pouca vontade de viver que me sento num banco da estação do metro e fico a ver os comboios a passar. nos intervalos olho para a plataforma onde sai e entra gente dos comboios. outros como eu esperam. mas entram no próximo comboio. e eu fico ali a olhar como se estivesse a realizar e actuar ao mesmo tempo num filme a preto e branco. penso que devia chorar que me fazia bem talvez conseguisse apanhar o próximo comboio. tempos houve em que não chorava em público. para que ninguém percebesse que eu era tão cheia de fraquezas como qualquer ser humano. tempos houve em que não mostrava as minhas fraquezas a quem quer que fosse. chegava a casa e em frente do espelho chorava. julgo que no fundo precisava que alguém me visse chorar. à falta de melhor assistência fazia-o para mim mesma e era como se a pessoa do outro lado do espelho não fosse eu como se fosse alguém que não tinha nada a ver comigo. mas hoje não tenho lágrimas para chorar. continuo sentada na mesma posição. de repente reparo num homem do outro lado da plataforma. é um funcionário do metro sei porque está fardado. tem entre 30 e 40 anos e é um tipo alto e bem parecido. parece procurar alguma coisa nas linhas do metro e penso que talvez seja um rato que às vezes vejo por ali. depois reparo que ele vai andando de um lado para o outro e olha-me com aquele ar de "flirt" que`há muito tempo não vejo senão nos filmes antigos. nos filmes a preto e branco. primeiro respondo com o meu ao olhar dele. ele sorri e eu disfarço o meu sorriso. mas de repente perdi a vontade de chorar. e entro no próximo comboio.

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