07 maio, 2007

Gente que se inventa inventando.

O rapaz sentado à minha frente tem cerca de 30 anos (talvez um pouco mais) e viaja só. Olha pela janela e tem um sorriso apalermado no rosto: o sorriso de quem está apaixonado ou de quem pensa em alguém de quem gosta muito. Penso para mim: tens tempo de aprender mas o mais certo é nunca aprenderes e levares esse sorriso contigo para o resto da vida.
Penso com inveja. Gostava de poder ter este sorriso idiota na cara de vez em quando. Gostava de acreditar no que quer que fosse que me estampasse um riso idiota na cara. Em vez disso, aqui estou em frente dele que olha pela janela, ignorando o meu ar trocista.
Penso na quantidade de pessoas que já se sentiram ou sentem como este rapaz. Penso nas vidas dos meus amigos e amigas. Penso nas estórias que costumamos trocar. Eu invento tudo. Sou uma pessoa inventada, que inventa o amor a cada momento, que inventa o riso, descobre gargalhadas no meio do nada. Faço troça das estórias verdadeiras que me contam. Tudo por dentro de mim. Olham-me com a convicção de que sabem o que eu sinto, de que me conhecem. É claro que cometem repetidas "gaffes". Eu rio por dentro de mim. Sempre gostei de pregar partidas. Não vou mudar agora. Se me apetecer inventar que estou apaixonada, assim, de repente, por um ser da netesfera que não conheço de lado nenhum mas que teima em falar de amor, apesar de eu já ter provado por dois mais dois que o amor não existe, porque dois mais dois é igual a cinco...
Já sei que esta estória não faz sentido nenhum mas não me apetece falar de política nem de raptos nem de trabalho... Apetece-me falar de amores inventados. Pronto. Ponto!

3 comentários:

Bartolomeu disse...

Nenhum tão fiel, quanto o amor inventado - ponto de exclamação, parágrafo
Insano será, apaixonar-nos pela pessoa certa, significa uma traição a nós mesmo, significa a mutilação daquilo que mais valioso possuimos, a liberdade - ponto final, parágrafo.
Nada mais coerente que viver um momento de paixão por um estranho relativo que viaje em frente a nós e deixarmos que o espírito viaje à velocidade alucinante de um encontro fugaz, louco, intensamente frutuso.
De que serve a estabilidade mentirosa de algo programado dentro de padrões que se desconhece a utilidade e a viabilidade?

Unknown disse...

As palavras são bonitas. O pior é o resto...

Bartolomeu disse...

O resto... virá depois, se vier, e pode ter um milhão de formas e caras.