13 outubro, 2008

Alice nas cidades de Wim Wenders


agora que estamos todos muito mais descansados quanto à crise não percebi ainda porquê uma vez que ela foi apenas mascarada e não resolvida vou falar-vos de Alice uma menina alemã de 9 anos que já viveu com a mãe e os seus vários namorados em várias cidades do mundo. Alice acaba por ser "abandonada" pela mãe aos cuidados de um estranho que correu os EUA para fazer uma reportagem e se limitou a fazer uma enorme série de fotos com uma photomaton e alguns apontamentos. quando quer regressar à Alemanha o editor da revista não só não lhe dá nenhum adiantamento como o despede sumariamente por não ter cumprido o prazo para entrega da reportagem. no aeroporto o repórter acaba tomando conhecimento com Alice e a sua mãe uma vez que há uma greve de pilotos que os impede de seguir viagem para a Alemanha e acabam por combinar partir juntos do hotel no dia seguinte para tomarem um avião para Amesterdam. só que a mãe de Alice não aparece e deixa um bilhete explicando que daí a dois dias os encontrará em Amsterdam. a menina parte com o repórter e todos julgam ser pai e filha. o repórter conta todos os cêntimos e uma vez que a mãe da menina não aparece decide partir por terra para a Alemanha onde Alice diz ter uma avó e saber onde ela mora. Alice lembra-se perfeitamente da casa mas não se lembra em que cidade era... ao fim de muitas peripécias em que Alice como qualquer criança da sua idade acaba por "tiranizar" um pouco o homem que faz de seu pai este entrega-a à polícia para que tentem encontrar a sua família. e quando atravessa o Reno de barco para ir para casa dos pais a menina aparece outra vez e diz que se lembrou de onde a avó morou. a polícia que procura a menina encontra-a e entrega-a à avó que entretanto localizou. e o repórter segue a sua viagem aliviado de uma menina que lhe fez companhia mas também virou a sua vida do avesso. às vezes creio todos precisamos de ver a vida virada do avesso. para podermos dar valor ao que temos.

12 outubro, 2008

Seven Days - Sting (clica aqui)

When I thought the field had cleared
It seemed another suit appeared
To challenge me
Woe is me
Though I hate to make a choice
My options are decreasing mostly rapidly
Well, we'll see

Dúvida


Nasci! De onde vim é que não sei,
Enfim também não sei para que vim,
Se vim para voltar para que fiquei
Neste intervalo de incerteza assim?

Nao foi do pó fecundo que brotei,
Não sei quem tal missão me impôs.
O acaso não foi, já estudei...
Desta incumbência desconheço o fim.

Sou a metamorfose das moneras
Desagregadas nas primeiras eras,
Reunidas hoje nesta luta infinda.

Sou a passagem irreal da forma
Submetida aos desígnios da norma,
Do meu princípio não sei nada ainda

(Severino Cordeiro Souza)

os macacos de imitação europeus


é a vida custa a todos. mas custa mais a uns que a outros. ninguém pediu a minha opinião sobre o que fazem com o dinheiro dos meus impostos. pois é josé. o facto é que eu não votei em ti e não gosto nada que tomes decisões sem me consultares e venhas depois limitar-te a avisar que o fizeste. porque não me dizes também quanto ganham os gestores responsáveis do estado de crise a que chegámos? e não me venhas dizer que a crise é mundial que com o mal dos outros posso eu bem. cada um sabe de si e eu que não sou mulher de engolir desaforos estou muito muitíssimo chateada. bem me podem vir dizer que é a única maneira de sustentar o mundo. o que eu sei é que depois de falida a AIG americana, subsidiada numa barbaridade de milhões de dólares pelos cidadãos americanos não cancelou uma reunião dos seus administradores numa das estâncias mais caras do país onde todas as despesas foram pagas pelos contribuintes, incluindo cabeleiro estética massagem e spa. ora toma lá que é para aprenderes. e como eu não sou burra e sei que os nossos administradores adoram imitar os seus congéneres americanos já estou a ver que o dinheiro dos meus impostos em vez de servir para dar a quem precisa um crédito com juros mais baixos vai servir para que os senhores administradores consultores e outros oures como doutores vão continuando a auferir salários milionários enquanto o contribuinte vai para o desemprego ou se esfalfa para chegar ao fim do mês sem dever na mercearia.

11 outubro, 2008

Por Enquanto - Vanessa da Mata (clica aqui)

Se lembra quando a gente
Chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
Sem saber
Que o pra sempre
Sempre acaba...

Despedida


Quando a guerra não foi mais que um simples jogo
quando o medo fez mais cedo um outro escuro
e o futuro se fez logo ali, dobrando
eu vi, amiga: era tarde.

Quando o mundo foi além do meu quintal
quando a vida foi jornal e não história
e a memória fez a contramão do dia
eu vi, amiga: era tarde.

Quando o vento não me fez abrir os braços
ao abraço sideral de estar voando
e a pandorga me fugiu sem dizer quando
eu vi, amiga: era tarde.

Quando o guarda que dormia nos brinquedos
pôs o dedo no olhar da minha pressa
e quis ver o que a vida fez de mim
eu vi, amiga: era tarde.

Quando a noite foi algema no meu sono
e eu, de dono, fui escravo de um relógio
e no pulso pus dilema e cotidiano
eu vi, amiga: era tarde.

Quando o tempo foi julgado em outra lei
e a tristeza me beijou, tão natural
nas paredes, no vazio fundo da casa
eu vi, amiga: era tarde.
Muito tarde.

(Jaime Vaz Brasil)

para sempre


já que se fala tanto hoje de cuidados paliativos porque não falar do final dos mesmos ou seja da morte? da morte que não sabemos como dizia o Prof. Agostinho da Silva se nos levará a nós. tudo o que sabemos é que já levou muitos mas não podemos afirmar que nos levará a nós pelo que o ditado que informa que a única coisa que temos de certo na vida é a morte pode não estar assim tão certo como isso. descobri que a morte existia devia ter 7 ou 8 anos. um amigo dos meus pais bárbaramente assassinado pela polícia judiciária em Luanda que se defendeu dizendo que ele se tinha suicidado uma versão em que ninguém acreditou. nem o poder religioso. naquela altura um suicida não tinha direito a um funeral católico e o dele levou 4 (quatro!) padres. foi o primeiro funeral a que assisti e o mar de gente que vi era de tal maneira que julgo não esquecerei jamais o funeral do Barata. depois foi o marido da minha avó paterna. convivia tão pouco com ele uma vez que vivia em Luanda que nem me lembro se o chamava de avô mas julgo que sim. não sei se gostava dele ou não. sei que tinha pena dele pelas regras que a minha avó lhe impunha mas isso não me impedia de estar constantemente a pregar--lhe partidas. lembro-me de me terem obrigado a dar-lhe um beijo depois de morto mas não me obrigaram a ir ao funeral e não fui. a morte dele não me tirou nem acrescentou coisa nenhuma. tinha 12 anos. aos quinze perdi um amigo num acidente de mota. perdi não. o amigo ficou. o que aconteceu foi que ele morreu de acidente de mota. e foi a primeira perda realmente dura que tive. depois foi um primo uma avó o pai a mana velha... e muitos outros pelo meio que não me chegaram a doer. morreram duas amigas muito queridas num espaço curto de tempo. e estes que morreram e que me diziam alguma coisa que acrescentaram alguma coisa à minha vida... estes eu lembro todos os dias e sinto saudades e sei que embora estejam dentro de mim e que não devo chorá-los às vezes choro mesmo. mas não é outra coisa senão a saudade que me aperta demais o coração. e nessas alturas quando o coração está demasiado cheio da dor da saudade aí faz-me muito bem chorar. mas não quero que mais nenhuma das pessoas que amo morra. nem com cuidados nem sem cuidados paliativos. quero tê-los para sempre junto de mim. para sempre.

10 outubro, 2008

JEITO ESTUPIDO DE TE AMAR - MARIA BETHANIA (clica aqui)

Eu sei que eu tenho um jeito
Meio estúpido de ser
E de dizer coisas que podem magoar e te ofender
Mas cada um tem o seu jeito
Todo próprio de amar e de se defender
Você me acusa e só me preocupa
Agrava mais e mais a minha culpa

Ai! Se sêsse!...


Se um dia nós se gostasse;
Se um dia nós se queresse;
Se nós dos se impariásse,
Se juntinho nós dois vivesse!
Se juntinho nós dois morasse
Se juntinho nós dois drumisse;
Se juntinho nós dois morresse!
Se pro céu nós assubisse?
Mas porém, se acontecesse qui
São Pêdo não abrisse as portas do céu
e fosse, te dizê quarqué toulíce?
E se eu me arriminasse e tu cum insistisse,
prá qui eu me arrezorvesse
e a minha faca puxasse, e o buxo do céu furasse?...
Tarvez qui nós dois ficasse tarvez
qui nós dois caísse
e o céu furado arriasse
e as virge tôdas fugisse!!!

(Zé da Luz)

à miúda mais generosa que conheci


preciso muito de te dizer que finalmente começo a sentir-me em paz com a tua falta como se estivesse a perdoar-te o facto de teres partido sem um aviso sem me dares tempo de concretizar os sonhos que sonhámos de viagens ao deserto em camelos e 4x4. finalmente começo a sentir um ambiente mais leve. o facto de ter deixado para trás algumas das coisas que me impediam de pensar senão em ti o dia inteiro acho que tem ajudado. lembro-me de ti todos os dias. todos nos lembramos eu acho. alguns com mais outros com menos saudades. também há é claro quem não tenha sentido a tua falta. sinal do egoísmo e do cinismo dos tempos que correm. mas afinal não há não houve nem haverá nunca quem agrade a gregos e troianos não é? o facto é que a maior parte das pessoas gostavam de ti. pela tua generosidade simplicidade e inteligência. pela falta de apego ao poder. por estares onde estavas contra vontade. por tratares a todos por igual. pelo cuidado que punhas em não magoar ninguém que muitas vezes não foi percebido ou foi mal interpretado. esta semana o gago apareceu por lá. reformado como está passa metade do ano no Algarve a fazer o que gosta como sabes pesca e fotografia. apareceu por lá e não sabia que tu já não estavas ali connosco embora estejas sempre presente. comoveu-me o facto de se ter referido a ti como aquela miúda tão inteligente se deixou assim levar. talvez alguns de nós aqueles que pensamos que desististe tenhamos razão. afinal eu entendo-te tão bem! viver assim como vivias cansa. até à exaustão. cansa até que um dia a vontade de desistir é mais atraente que a de continuar lutar. dar murros em ponta de faca magoa. eu sei.

09 outubro, 2008

Quereres - Chico Buarque e Caetano Veloso (clica aqui)

Onde queres o ato, eu sou o espírito
e onde queres ternura, eu sou tesão
onde queres o livre, decassílabo
e onde buscas o anjo, sou mulher
onde queres prazer, sou o que dói
e onde queres tortura, mansidão
onde queres um lar, revolução
e onde queres bandido, sou herói

Quando eu partir


Quando eu partir, quando eu partir de novo
A alma e o corpo unidos,
Num último e derradeiro esforço de criação;
Quando eu partir...
Como se um outro ser nascesse
De uma crisália prestes a morrer sobre um muro estéril,
E sem que o milagre se abrisse
As janelas da vida. . .
Então pertencer-me-ei.
Na minha solidão, as minhas lágrimas
Hão de ter o gosto dos horizontes sonhados na adolescência,
E eu serei o senhor da minha própria liberdade.
Nada ficará no lugar que eu ocupei.
O último adeus virá daquelas mãos abertas
Que hão de abençoar um mundo renegado
No silêncio de uma noite em que um navio
Me levará para sempre.
Mas ali
Hei de habitar no coração de certos que me amaram;
Ali hei de ser eu como eles próprios me sonharam;
Irremediavelmente...
Para sempre.

(Ruy Cinatti)

sinto-me saída do carrossel


não sei muito bem se é de feitio se é falta de hábito. afinal tive mais filhos do que as pessoas da minha geração na generalidade. e provavelmente teria tido outros tantos se as condições para isso estivessem criadas. sinto-me bem quando olho para os meus três filhos e para os meus dois netos. só que há muitos anos que me acostumei ao silêncio da minha música e dos meus livros. desabituei-me de ter a casa cheia de crianças. desabituei-me do burburinho... e o meu neto mais novo o Pablo que tem 3 anos e nacionalidade portuguesa e italiana fala pelos cotovelos. nas duas línguas. muitas vezes misturando palavras das duas na mesma frase e com uma rapidez impressionante. sinto-me como se estivesse num carrossel. vai comendo e falando. afirmando sempre que o jantar é buono. e que lhe piaga o mousse de chocolate. comendo e falando. sempre. uma capacidade impressionante de me pôr a cabeça à roda. acabaram de sair. o sossego voltou. tenho saudades mas ao mesmo tempo faço um esforço grande para não desatinar.

08 outubro, 2008

Brand New Day - Sting (clica aqui)

And I, I think I´ll change my ways
So all your words get noticed
Tomorrow is a brand new day
Tomorrow is a new day

Poema à boca fechada


Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

(José Saramago)

mais uma vez o abençoado siadap


cada vez se ouve mais falar do siadap ou seja da avaliação dos funcionários públicos. o que estava acordado sobre isto em geral era que o trabalhador era contactado pelo dirigente para contratualizar os serviços que poderia prestar ao longo de um ano. os objectivos acordados o trabalhador cumpria ou não cumpria... a verdade é que aos trabalhadores pelo menos na parte que conheço e de que posso falar não sabem sequer nesta altura do ano quais são os objectivos a atingir uma vez que tendo assinado um acordo (que não foi negociado mas imposto) o mesmo foi ao que consta alterado pelo dirigente máximo do serviço por considerar insuficientes os objectivos traçados para alguns sectores da instituição. por mim tanto faz. com ou sem objectivos sempre tive o serviço em dia. mas os colegas que têm mais dificuldade em se organizar nem sabem o que têm que fazer. tudo isto faz com que os funcionários públicos estejam cada vez mais a trabalhar para números em vez de trabalharem para os que deviam beneficiar de um sistema mais eficaz. como em todos os outros sectores da vida portuguesa os institutos foram criados para que todos fossem iguais. só que há uns poucos que são bem mais iguais que a ralé.

07 outubro, 2008

Redondo Vocabulo - Zeca Afonso - (clica aqui)

Nos degraus de Laura
No quarto das danças
Na rua os meninos
Brincando e Laura
Na sala de espera
Inda o ar educa

Picasso


Era uma vez um pintor
com olhos tão grandes e belos
como duas ilhas de coral
que era até capaz de pintar
o pássaro cor do mar
que mora nos ramos mais altos
da árvore do sonho,
uma árvore que tem
perfil de águia e cresce em todas as direcções.
enquanto nós dorminos
ou imaginamos de olhos fechados
coisas que não estão
ao alcance das nossas mãos.
Oito nomes tinha o pintor
oito nomes azuis e brancos
como a cidade onde nasceu,
Málaga chamada, cidade do sul
do seu país chamado Espanha.
Dos oito nomes que tinha,
escritos com letra bonita
de menino de escola,
dois se tornaram conhecidos
por serem tão grandes
ou maiores ainda que a pintura
e por terem a beleza
que tem um voo de pomba branca
no céu claro do mês de Maio.
Pablo Picasso.
Pablo Picasso se chamava o pintor.


(José Jorge Letria)

com F!


não me apetece falar de coisas tristes já basta ter que as resolver. não me apetece falar da crise mundial financeira e menos ainda da crise m Portugal. não me apetece sequer tentar perceber como é que um país como a Islândia fecha as portas dos seus Bancos. não me apetece comentar sobre como é que em apenas um ano de má gestão se dá cabo de um sistema financeiro mundial em que pensávamos poder confiar. pois claro que em Portugal não é diferente. os gestores das empresas enchem os bolsos enquanto procedem a despedimentos e as cotações baixam na bolsa de Lisboa. um homem que trabalha das 8 da manhã até à meia noite ou mais em calhando recebe € 1.000 por mês e diz que é bem pago. tristeza de país este em que vivemos. triste Europa esta que só funciona para os ricos ficarem cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. triste país este que tenta encobrir a miséria com subsídios da treta às famílias ditas desfavorecidas... entenda-se por desfavorecido aquele que ganha € 399,00. todos os outros têm obrigação de viver condignamente embora seja hoje muito difícil encontrar uma casa a menos de € 400,00. como dizia um amigo meu que já há 30 anos procurava casa em Ponta Delgada " ao preço que me pedem prefiro uma casa com casa de banho e sem cozinha pois não fico com dinheiro para comer". esta é absolutamente verídica! tão verídica com a atribuição de casas de baixa renda pelas Câmaras deste país (não se pense que é só em Lisboa) a quem ganha muito mais que o dito mínimo considerado condigno para viver. e como me apetece dizer uma daquelas asneiras mesmo fortes fico por aqui. com F.

06 outubro, 2008

Povo que lavas no rio - Amália Rodrigues (clica aqui)

Povo que lavas no rio
Que talhas com o teu machado
As tábuas do meu caixão.
Pode haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não.