14 outubro, 2007

Viva a paixão!

Caminham de mãos dadas, como gente que se ama, como gente que se quer bem lá vão de mãos dadas conversando. Ambos vestem calças, ambos usam barba e bigode, ambos têm o ar de quem está de bem com o mundo e com a vida... reparo no entanto que dão as mãos apenas em sítios onde há pouca gente, ainda assim fico feliz por esta assumpção da felicidade e pela ilusão que me dão de que o país está a mudar, as mentalidades estão a mudar...
Pode ser que estejam. Mas muito devagarinho.
Reparo que os casais com mais de sessenta anos dão mais frequentemente as mãos que os jovens. Quando vejo como há dias, um casal muito jovem, ela uma mulher nos seus 18 anos mas ele praticamente imberbe na mesma idade, fico muito feliz. Nunca achei que as pessoas devam esconder os sentimentos ou evitar gestos de carinho em público... eu sei que nem toda a gente é capaz de o fazer e eu mesma não gosto de grandes manifestações de ternura que às vezes me fazem. Só gosto quando sinto essa mesma ternura pelo outro(a).
Param junto ao carro e beijam-se longamente. A única pessoa que assiste à cena sou eu. Fico feliz. Ambas vestem calças, ambas têm cabelos compridos, ambas são jovens e lindas... e tive a sorte de assistir a esta cena de ternura. E de repente tenho a sensação de que não estou numa pequena cidade perto de Lisboa mas em Londres, no Soho ao fim da tarde ou coisa que o valha. Sinto-me como se estivesse numa grande capital Europeia, onde as pessoas manifestam publicamente os seus afectos, não se importando com o velho esquema de que quem tem o direito de o fazer são apenas os casais heterossexuais, de preferência os mais jovens (que os outros já não têm idade para isso), embora a realidade prove o contrário, são os menos jovens que não têm vergonha de dizer esta é a mulher que eu amo, este é o homem que eu amo e não, é apenas um amigo, é apenas uma amiga... Não quer dizer que não o sejam também, mas os laços da paixão têm outro alcance não me lixem!
A realidade vai mudando. Um pouco lentamente demais para o meu gosto, mas pronto. Sou eu que tenho que me aguentar à bronca e esperar para ver estes exemplos com mais frequência...
Viva a paixão!

13 outubro, 2007

Carolina - Chico Buarque por Caetano Veloso (clica aqui)

Carolina, nos seus olhos tristes, guarda tanto amor
O amor que já não existe
Eu bem que avisei, vai acabar
De tudo lhe dei para aceitar
Mil versos cantei pra lhe agradar
Agora não sei como explicar
Lá fora, amor, uma rosa morreu, uma festa acabou,
nosso barco partiu
Eu bem que mostrei a ela, o tempo passou na janela
E só Carolina não viu

De noite...


De noite, amada, amarra teu coração ao meu
e que eles no sonho derrotem
as trevas como um duplo tambor
combatendo no bosque
contra o espesso muro das folhas molhadas.
Noturna travessia, brasa negra do sonho.
Interceptando o fio das uvas terrestres
com pontualidade de um trem descabelado
que sombra e pedras frias sem cessar arrastasse.
Por isso, amor, amarra-me ao movimento puro,
à tenacidade que em teu peito bate.

Com as asas de um cisne submergido,
para que as perguntas estreladas do céu
responda nosso sonho com uma só chave,
com uma só porta fechada pela sombra.
(Pablo Neruda)

O centenário do soutien!

Pois é. O soutien faz cem anos. Ouvi dizer hoje e ouvi mulheres fazerem o elogio do soutien. Curiosamente hoje, quando cheguei a casa depois de um dia de trabalho e mais umas coisinhas daquelas que a gente precisa de fazer de vez em quando como ir cortar o cabelo, já tinha decidido falar sobre o tema. Porque nos dias em que por alguma razão visto um soutien a primeira coisa que faço quando chego a casa é tirá-lo. Não consigo perceber as mulheres que dizem que o soutien é uma peça de vestuário confortável. Não é. E conheço várias outras mulheres que são da minha opinião.
Por outro lado a estória da lei da gravidade não me convence. É claro quer há mulheres com seios enormes e que terão alguma dificuldade com essa tal de gravidade... mas a maior parte das mulheres não o terá. Também não me parece que a teoria de que as mulheres que não usam soutien ficam mais rapidamente com o peito descaído seja verdadeira: amamentei duas crianças, quase nunca uso soutien e os meus seios nunca se queixaram disso.
A única altura do ano em que o soutien poderá trazer algum conforto é nos dias mais frios de Inverno. É verdade. Sempre é mais uma peça de roupa e para mulheres friorentas como eu faz a diferença.
Por isso: não sei quem inventou o soutien. Mas parece-me ser o sucessor natural do espartilho. Um dia há-de desaparecer como desapareceu o espartilho e quiçá será usado apenas como uma espécie de fétiche para quem aprecia.
Não me apetece desejar ao soutien um feliz aniversário!

12 outubro, 2007

Devil may care - Diana Krall (clica aqui)

Live love today, love come tomorrow or
May
Don't even stop for a sigh,
it doesn't help if you cry
That's how I live and I'll die
Devil may care

Uma negra convertida

(Sorriso - foto de José Silva Pinto em Olhares.com)



Minha avó negra, de panos escuros,
da cor do carvão...
Minha avó negra de panos escuros
que nunca mais deixou...


Andas de luto,
toda és tristeza...
Heroína de ideias,
rompeste com a velha tradição
dos cazumbis, dos quimbandas...


Não xinguilas, no óbito.
Tuas mãos de dedos encarquilhados,
tuas mãos calosas da enxada,
tuas mãos que preparam mimos da Nossa Terra,
quitabas e quifufutilas - ,
tuas mãos, ora tranquilas,
desfilam as contas gastas de um rosário já velho...


Teus olhos perderam o brilho;
e da tua mocidade
só te ficou a saudade
e um colar de missangas...


Avózinha,
às vezes, ouço vozes que te segredam
saudades da tua velha sanzala,
da cubata onde nasceste,
das algazarras dos óbitos,
das tentadoras mentiras do quimbanda,
dos sonhos de alambamento
que supunhas merecer...
E penso que... se pudesses,
talvez revivesses
as velhas tradições!


(Mário António)

Carta aberta a uma espanhola trapalhona

Como foi bom pôr a conversa mais ou menos em dia, amiga, depois de tanto tempo, e tão preocupada que tenho andado contigo, sabendo que estavas tão doente e sem conseguir o teu número de telefone que havia perdido... quando no outro dia me disseram que tinha ligado uma espanhola fiquei sem saber se serias tu ou a Maria. Mas ainda bem que voltaste a ligar, ainda bem que conseguiste o meu número novo, ainda bem que estás com essa força toda, disposta a enfrentar essa maldita doença e creio que conseguirás, tens que conseguir sabes eu já não suporto mais perdas, estou sempre a dizer isto, mas ninguém me dá ouvidos, eu ainda vou conseguindo aguentar os casos como o de Irene que se prolongavam há muitos anos, mas estes assim que uma pessoa pensa que está cheia de saúde e vai-se a ver está minada... mas tu estás a conseguir, tu vais conseguir, um dia destes ponho-me à estrada e vou passar uns dias contigo está prometido e tu sabes que eu cumpro as minhas promessas por isso é que não enveredei pelo caminho da política de que tanto gosto, porque não sei deixar de cumprir o que prometo, porque os meus amigos de verdade são-no mesmo e tu estás nessa lista, sabes bem, há quanto tempo nos conhecemos lembras-te? Quantos anos passaram, éramos tão novas tenho as fotos no Algarve, em Toro depois, gostei de ti assim que te vi, mesmo assim com essa maneira atrapalhada de falar que não é português nem castelhano nem coisa nenhuma... que desaprendeste tudo mas no fundo a língua não impede nada como a Irene e o marido deixaram provado... não a conheceste. Mas também agora já não importa... o que importa é que eu estou muito feliz por ter falado contigo, por ter percebido que estás cheia de força, que não deixas que os factos se adiantem e tomas tu conta da situação... outra coisa não esperava de ti. Ou não me tivesses cativado assim às primeiras!

11 outubro, 2007

Finalmente a sós - Jorge Palma (clica aqui)

Odeio a luz do teu olhar
quando não brilha só para mim
pensei que fosses mais um brinquedo meu

Finalmente sós
Finalmente a sós




A casada infiel


Eu que a levei ao rio,
pensando que era donzela,
porém tinha marido.
Foi na noite de Santiago
e quase por compromisso.
Apagaram-se os lampiões
e acenderam-se os grilos.
Nas últimas esquinas
toquei seus peitos dormidos,
e se abriram prontamente
como ramos de jacintos.
A goma de sua anágua
soava em meu ouvido
como uma peça de seda
rasgada por dez punhais.
Sem luz de prata em suas copas
as árvores estão crescidas,
e um horizonte de cães
ladra mui longe do rio.
Passadas as sarçamoras,
os juncos e os espinhos,
debaixo de seus cabelos
fiz uma cova sobre o limo.
Eu tirei a gravata.
Ela tirou o vestido.
Eu, o cinturão com revólver.
Ela, seus quatro corpetes.
Nem nardos nem caracóis
têm uma cútis tão fina,
nem os cristais com lua
reluzem com esse brilho.
Suas coxas me escapavam
como peixes surpreendidos,
a metade cheias de lume,
a metade cheias de frio.
Aquela noite corri
o melhor dos caminhos,
montado em potra de nácar
sem bridas e sem estribos.
Não quero dizer, por homem,
as coisas que ela me disse.
A luz do entendimento
me faz ser mui comedido.
Suja de beijos e areia,
eu a levei do rio.
Com o ar se batiam
as espadas dos lírios.
Portei-me como quem sou.
Como um cigano legítimo.
Dei-lhe um estojo de costura,
grande, de liso palhiço,
e não quis enamorar-me
porque tendo marido
me disse que era donzela
quando a levava ao rio.
(Federico Garcia Lorca)

Sorri em Compostela...

A ver o que me sai hoje que me sinto tão esvaziada. O livro que estou a ler não é inspirativo, não vou dizer já que não presta, posso ser eu que tenho demasiadas coisas na cabeça e não esteja a conseguir ler mas este coronel Santiago está a chatear-me um bocado, já tive melhores coronéis, daqueles do sertão brasileiro, mas pode ser que o homem passe de vez para o tempo de Salazar e deixe Compostela lá sossegadinha onde está... e por falar em Compostela, não há dúvida as palavras são como as cerejas, estou a lembrar-me da visita a Santiago de Compostela num dia muito chuvoso de Junho, e frio e feio e aquela catedral enorme a engolir gente vinda de todo o mundo, os japoneses como sempre de máquina em punho, flash atrás de flash, eles querem lá saber se podem ou não, não falam galego nem querem falar se eu estivesse no lugar deles fazia o mesmo, olho para aquelas máquinas e a sua tecnologia esmaga-me e se não ponho um travão a isto já vou para outro lado, por isso travanitos a fundo.
Entro na catedral com 4 amigos, um deles está apenas ocupado em filmar, entramos nós outros (até pareço galega, porra!) na fila e toca de cumprir o cerimonial da cabeçada e eu decido fazer um sorriso para o realizador e logo um homem desata a injuriar-me porque aquele é um local sagrado e mais isto e mais aquilo, só percebo uma parte do que diz, cá para mim era catalão, se bem que este tipo de atitude não parece ser de catalão, mas não entendo a maior parte das palavras, é só por isso, pode ser que fosse outra coisa qualquer, mas fico "lixada", então nos locais sagrados não se pode, não se deve sorrir, porquê? Sorrir é uma falta de respeito? Pode ser que este texto e outros até sejam, mas a verdade é que eu respeito todas as religiões todos os credos e sobretudo todos os crentes... mas não vou deixar de sorrir porque estou na catedral de Santiago de Compostela... isso não!

10 outubro, 2007

Tá perdoado - Maria Rita (clica aqui)

defumei o corredor,
perfumei o elevador
pra tirar de vez o mau olhado
a saudade me esquentou
consertei o ventilador
pro teu corpo não ficar suado
nessa onda de calor
eu até peguei uma cor
tô com o corpo todo bronzeado

seja do jeito que for
eu te juro meu amor
se quiser voltar, tá perdoado

Filho

Nicolau, menino, entra.
Onde estiveste, Nicolau,
que trazes a arrastar
o teu brinquedo morto?

Nicolau, menino, entra.
Vem dizer-me onde foi que tu estiveste
e a estrela fugiu das tuas mãos.

Tens comigo o teu catre de lona velha.
Deita-te, Nicolau, o fantasma ficou lá longe.
Dorme sem medo.
Porão, roça, medos imediatos,
tudo ficou lá longe.

Quando acordares a jornada será mais longa.

Nicolau, menino,
onde foi que deixasteo corpo que te conheci?
Deus há-de querer que o sono te venha depressa
no meu catre.


(Oswaldo Alcântara)

Queres objectivos? Toma!

José é realmente o homem que nos faltava. Ele gosta tanto de manifestações, aprecia-as tanto que põe em pé de igualdade as manifestações organizadas pelo PCP para o chatear e as organizadas pelo PS para que ele não se sinta tão mal, por haver sempre gente que não está de acordo com o que faz... gente assim a modos que com mau feito como eu. Se o meu pai me tivesse dado umas lambadas quando eu era miúda e até, quiçá mais crescida, eu teria aprendido que devo respeitar os governantes em geral e o José em particular... mas não, pai: acho que caíram todas ao chão e assim aqui estou para que não leiam o que escrevo nem ouçam o que digo que não sou boa conselheira, já estão prevenidos, só continuam se quiserem...
Pois é, o José só está verdadeiramente virado para a alta tecnologia e para o simplex e o Zé Povinho lá vai andando a reboque feliz e contente por estar a contribuir com o seu melhor para um cada vez maior desemprego... é que os empregados dos Bancos ainda não perceberam que mandando todos os velhinhos(as) para a caixa multibanco estão a contribuir para que umas dezenas de colegas percam o emprego e quem diz os bancários diz os funcionários públicos que agora são acometidos pela febre dos números, os chefes querem números, não querem serviço bem feito, não querem utentes bem informados (se quiserem que vão à NET, pá), não querem populações saudáveis nem escolaridade decente... números senhores, dêem-lhes números para que os objectivos possam ser cumpridos (O José nunca mais chega ao objectivo dos 150.000, porque entretanto para criar esses já despediu 450.000) mas o que vale mesmo é tramar o Zé Povinho e levá-lo a que se enforque a si mesmo...
Que país é este que eu tenho? Que povo é este que parece cego, que teima em agradar ao chefe para depois agradar ao José e pouco depois se encontrar em casa, desempregado, e daí a um piscar de olhos sem subsídio de desemprego e sem saber o que fazer para pagar a prestação da casa que quando foi comprada parecia que até ia ser fácil de pagar... e era: não tivesse ele tido o azar de ir para o desemprego...
Tem cuidado Zé: não ajudes a pôr a corda ao pescoço, Zé. Olha que a ti tanto faz que os objectivos sejam ou não atingidos... lixa-te nos números Zé e faz o teu trabalho como deve ser, com o brio e a dignidade com que sempre fizeste.

09 outubro, 2007

Call me irresponsible - Michael Bublé (clica aqui)

Do my foolish alibis bore you?
Girl, I'm not too clever, I
I just adore you

Call me unpredictable
Tell me that I'm so impractical
Rainbows, I'm inclined to pursue

Ao bater da chuva


A porta fechada é uma obsessão.
As vozes caladas em torno de nós,
as pausas alongadas em silêncios de uma angústia
nova,
são a descontinuidade do tempo interrompido
dentro da casa que arrombaram ontem,
no coração da aldeia do Mazozo.
A chuva cai em bátegas doces, a chuva bate o capim molhado,
e soa...

A humanidade é fria
As mulheres já choraram tudo
- A Mãe Gonga comandou o coro.
Esvaem-se agora em surdina muda,
que agudiza o bater da chuva.
Os homens dizem de quando em quando
um nome obstinado.
Chamava-se Infeliz
aquele rapaz
que levaram ontem
do coração da aldeia.

A chuva matraqueia ainda e sempre
na porta fechada como uma obsessão.
Como ela nos lembra o som odiado
que dia após dia
nos sobressalta!
Como ela recorda o som da metralha,
que dia após dia
desce o morro da Calomboloca
e bate naquela porta fechada,
obcecada de protecção!

A gente conhece o som da metralha
quando ela vem no fim do dia.
Qando ela vem, silencia a aldeia,
então, em sobressalto, o povo diz:
- Foram fuzilados...
E ninguém sabe do Infeliz,
aquele rapaz que levaram ontem...

(Henrique Abranches)

Na casa de Irene


Eu sei que estás contente aí onde estás, embora com saudades do teu marido e do teu filho eu sei, agora estás sossegada, agora a dor partiu finalmente, deixou-te descansar essa dor que já não permitiam a que o teu marido assistisse, esse homem que te acompanhou toda a vida, com quem te entendias numa língua que não era a tua nem era a dele, porque nenhum dos dois sentiu necessidade nunca de aprender a língua do outro para dizer amo-te, qualquer língua servia e a nossa é para ele muito difícil e a dele é para ti muito difícil... e depois realmente digam o que disserem vocês não precisaram nunca de falar a mesma língua para saberem o que o outro queria e o que o outro queria era apenas ver-se como num espelho e saber que era feliz... e tu foste feliz durante muitos anos até que essa doença te apanhou, ninguém sabe muito bem quando, às vezes estranhava um certo desequilíbrio teu mas nunca dei muita importância, para dizer a verdade nunca dei importância nenhuma, habituei-me a ver-te assim só que de repente envelheceste 20 anos, de repente só a tua cabeça funcionava o teu corpo não obedecia por mais que quisesses, por mais que mandasses, o teu corpo a fazer o que queria como se tivesse vontade própria, qualquer coisa fora do normal porque o corpo tem como que um patrão a quem deve obedecer, o cérebro, toda a gente sabe não é novidade, mas para ti era novidade porque a pouco e pouco ele se foi negando a obedecer ao cérebro... e de repente a esperança, porque parece que há um medicamento que melhora as condições de vida das pessoas como tu e como o último Papa que sofrem de Parkinson... ainda passeaste com o teu marido muitos anos, mesmo em cadeira de rodas, ele levava-te de férias, incansável, até que também o corpo dele começou a ceder e teve que se separar de ti... não mais dormiste com ele, senão aqui há umas semanas quando te deixaram vir a casa, acho que para te despedires, para teres a certeza que a tua casa era ainda a mesma, para te certificares que o teu marido continuava lá e que nenhuma mulher a ocupar o teu lugar... nenhuma mulher Irene, como temias, garanto-te eu nenhuma mulher a ocupar o teu lugar.
Boa viagem.

08 outubro, 2007

Boa Sorte / Good Luck - Vanessa da Mata e Ben Harper (clica aqui)

É só isso
Não tem mais jeito
Acabou, boa sorte

Não tenho o que dizer
São só palavras
E o que eu sinto
Não mudará

Carta


Jesus Cristo Jesus Cristo
Jesus Cristo, meu irmão
Sou fio dos pais da terra
Tenho corpo p'ra sofrer
Boca para gritar
E comer o que comer
Os meus pés que vão
No chão
Minhas mãos são de trabalho
Em coisas que eu não sei
E não tenho nem apalpo
Trabalho que fica feito
Para o branco me dizer
"Obra de preto sem jeito"
E minha cubata ficou
Aberta à chuva e ao vento
Vivo ali tão nu e pobre
Magrinho como o pirão
Meus fios saltam na rua
Joga o rapa sai ladrão
Preto ladrão sem imposto
Leva porrada nas mãos
Vai na rusga trabalhar
Se é da terra vai para o mar
Larga a lavra deixa os bois
Morre os bois... e depois?
Se é caçador de palanca
Se é caçador de leão
Isso não faz mal nenhum
Lança as redes no mar
Não sai leão sai atum...
Jesus Cristo Jesus Cristo
Jesus Cristo meu irmão
Sou fio dos pais da terra
Um pouco de coração
De coração e perdão
Jesus Cristo meu irmão.

(Alexandre Dáskalos)

O meu segredo

Sou um rapazinho de 2 anos. Tenho uma família maior que a dos meus amiguinhos da escolinha onde ando. Tenho em casa uma mãe e um pai (alguns dos outros meninos da minha escola só têm um pai ou uma mãe em casa) e um irmão e uma irmã mais velhos que eu. Temos uma casa grande e eu gosto muito do meu quarto e do meu irmão. Às vezes também gosto de brincar com as bonecas da minha irmã e com ela.
Hoje a minha tia veio fazer uma visita, almoçou connosco e eu chorei porque não queria comer mas queria estar sentado ao pé dela. É que eu gosto muito de ter muita família à minha volta e nem sempre ela pode vir a minha casa para eu lhe poder dar beijinhos e abraçar.
Eu gosto muito da minha mãe e do meu pai e de toda a gente. Eles julgam que eu não sei falar mas não é verdade. Eu sei, mas não quero que eles saibam para não me obrigarem a ser crescido assim muito de repente como a minha irmã que para o ano já tem de ir para a escola e o meu mano que já sabe as letras e os números todos. Eu sei muito bem o que são letras e também sei que as uso para falar mas esse é o meu segredo. Só estou um bocadinho preocupado hoje porque ouvi a minha mãe contar à minha tia que desconfia que eu sei falar, que já me "apanhou" mais do que uma vez a dizer frases inteiras e correctas... a verdade é que já me distraí mais do que uma vez a falar ao telefone porque como não a vejo esqueço-me e digo tudo direitinho (a sorte é que ela não tem a certeza porque depois eu volto a dizer coisa nenhuma)... quero ser pequenino sempre para a minha tia vir brincar comigo e fazer de conta que me esconde os brinquedos e fazer a magia de os fazer aparecer daí a pouco...

07 outubro, 2007

Yamore - Salif Keita & Cesária Évora (clica aqui)

Un tem fé, si un tem fê
No também viver sem medo e confians
Num era mais bisonho
Olhar de nos criança ta a tornar brilhar de inocença
E na mente CE esvitayada
Temporal talvez ta mainar