12 junho, 2018

quem sabe

 
hoje meu amor encontrei as primeiras páginas do livro que comecei a escrever antes de nasceres. o que me levou a escrever foi o facto de me sentir desenraizada. tive pouca convivência com as minhas avós, sobretudo a paterna. vivíamos em áfrica e éramos cinco. até aos cinco anos éramos seis. os pais os irmãos e a querida tia emília que fez o papel de mãe sempre que foi preciso. foi perfeita em todos os papéis que representou na vida. não me lembro de uma zanga. quando ralhava connosco usava um tom tão carinhoso... apenas as palavras diziam que não podíamos andar à pancada. morreu o ano passado como viveu: em paz com a vida. ela teve uma vida tão difícil e quem não conhecesse a sua vida diria que a sua vida fora um mar de rosas. gostaria que a tivesses conhecido melhor. depois ela voltou para lisboa e um pouco depois a tua bisavó materna foi ter connosco. estava viúva e os meus pais lembraram-se de a convidar a viver connosco. foram tempos muito felizes. a tua bisavó era muito habilidosa e uma extraordinária contadora de estórias. ensinava-nos a construir papagaios e carros de rolamentos. mas deu-se mal com o clima e adoeceu com paludismo. quando viemos de férias ela não voltou conosco. só depois do 25 de abril quando regressei a portugal tive mais contacto com o resto da família mas já era tarde. nunca consegui sentir-me parte dela. a vida levou-me de novo para longe. nasceram o teu pai e os teus tios e todo o tempo de que dispunha era para eles. muitos anos depois ainda conheci alguns familiares da minha mãe. mas sempre tive dificuldade em lhes chamar  tias e primas. eram a família dos meus pais. para mim a família resumiu-se a meia dúzia de pessoas. foi por isso que decidi começar a escrever para ti. onde quer que estejas hoje meu amor não esqueças que te amei muito ainda antes de nasceres. continuarei a amar-te até que a memória me deixe. quem sabe terminarei o livro que comecei para ti um dia.

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