13 junho, 2018

não sou capaz de deixar de te amar




se naquele dia tivesses aparecido no aeroporto e me tivesses pedido para ficar eu teria ficado. era só o que eu queria. ver-te entrar a correr abraçar-me e dizer apenas a palavra mágica. fica. mas isso não aconteceu. pela segunda vez tu não apareceste. pela segunda vez tu ignoraste-me. parti com o coração despedaçado e olhos marejados de lágrimas. no funchal olhei para mim ao espelho e disse tens que andar para a frente. ele não merece as tuas lágrimas. está feliz. mentiu-te sempre. enganou-te sempre. esquece. tens que esquecer. tens que esquecer. tens que esquecer. mas não esqueci. durante muitos anos não adormeci sem te desejar boa noite. furiosa comigo mesma por não conseguir deixar de o fazer todas as noites. a vida seguiu com muitas dificuldades mas com muita vontade de viver. apesar de ti. apesar das mentiras. apesar de tudo. escrevi-te muitas cartas. tinha que deitar para fora o sofrimento. escrevia e rasgava. mas sentia-me melhor. era o meu modo de desabafar. anos mais tarde voltei. muito doente. levaram-me a especialistas fizeram-me exames e concluíram o que eu sempre soube. o meu mal está na alma. para este mal não há pílulas nem xaropes. não ha sequer medicina que resolva. teria que nascer de novo e viver uma vida nova. uma vida onde não te tivesse conhecido. onde não existisses. e ao fim de quarenta anos procuraste-me. e eu percebi que ias continuar a mentir. percebi melhor então que enganar está na tua natureza. inventaste um homem que não existe e convenceste-me a ficar contigo. mas eu não consigo  suportar mentiras. não consigo suportar oportunistas. não consigo suportar este amor que há-de morrer comigo porque não consigo assassiná-lo. 

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