ergo os olhos para perceber quem me olha daquela maneira. quero saber a quem pertence aquele olhar que me fez erguer os olhos do moleskine e descubro que é um olhar de "frete" como se dizia no tempo que foi do meu pai ou de "carneiro mal morto" e pertence a um homem jovem vestido como um guerrilheiro urbano. tem cabelo louro comprido e encaracolado e uma barba densa e não aparada. usa um brinco na orelha e tem um físico cuidado de guerrilheiro. usa botas tipo militar claro provavelmente compradas na feira da ladra a alguém que as comprou a alguém que as fanou ou surripiou quando terminou o serviço militar. há quem as traga por recordação e há quem queira pura e simplesmente uma vez na vida receber o soldo certo. o seu olhar não me larga e entretanto eu decido controlar as entradas e saídas no metro conforme as estações. em alvalade e roma saem as velhas bem vestidas e de cabelo ripado para disfarçar a falta do mesmo. no areeiro saem jovens de mala james bond na mão e na alameda pois sai gente de todo o género. daí ao martim moniz não sai nem entra muita gente mas aqui saem os orientais africanos ciganos muçulmanos enfim toda uma fauna de emigrantes que espalham em redor de si ondas de cor e aromas diferentes e de repente esqueci o guerrilheiro urbano. no rossio saem turistas e na baixa chiado sai uma multidão de gente jovem. no meio dessa multidão sai o meu guerrilheiro urbano. e eu fico mais só até ouvir a voz que diz cais do sodré estação terminal façam o favor de abandonar o comboio. se calhar não é bem assim mas o sentido é o mesmo.
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