A semana passada eram bocadinhos de Primavera a cada curva. Amarelos diversos e rosas e lilases e muitos dos seus matizes e o que me apetecia era parar e ficar-me por ali num campo qualquer (não, de preferência um com animais, podiam ser cavalos, sim decido-me por cavalos). Talvez os meus olhos estivessem então menos tristes. Não sei. Não estava ninguém capaz de me ler o olhar quando cheguei, mas estou quase certa que dentro de mim existia pelo menos uma paz que hoje não me acompanhava. Não sei se me faltaram hoje os bocadinhos de Primavera ou se simplesmente a dor que me acompanhou a semana toda e afinal agora apenas um incomodo, insistiu em acompanhar-me, qualquer coisa hoje me fez mais triste ou sou eu a própria tristeza há muito muito tempo e eu só não sabia porque não havia ninguém no fim da linha para me dizer que tenho os olhos tristes e que é preciso mudar, mas mudar como diz-me tu aí desse lado, mudar como, se vivo num país que de repente descobriu que os velhos morrem em casa completamente sós, para falar verdade a mim o que me incomoda não é a morte mas a vida destes velhos, mas de repente sou eu que tenho esta mania de virar tudo do avesso e ser do contra, porque o que incomoda este triste povo português é que esta semana descobriu que, afinal, é bastante comum morrer de velhice e solidão... pior: é possível morrer sem cheirar mal. Haverá coisa pior do que morrer sem cheirar mal... O que me incomoda mesmo é a vida e não a morte.
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