aos 85 anos reaprendes a caminhar. e é como se fosses uma menina cheia de vontade e garra. agora não sou mais a tua menina ou pelo contrário sou como nunca fui a tua menina. ou somos a menina uma da outra. pergunto-te queres caminhar mais um bocadinho e respondes com outra pergunta tu queres e afinal o que interessa é o teu querer e não o meu. a vontade que tens de voltar a andar... e por mais que te diga tu andas achas que não porque estás por enquanto dependente de terceiros para caminhares. e agora o teu neto pega em ti e leva-te a dar a volta à sala e às tantas tira as mãos das tuas e exclamas como uma criança eu estou a andar. percebes finalmente que és capaz. tens que dizer a todos os presentes que afinal és capaz de andar. e quem está lúcido em cadeiras de roda abre um sorriso. hão-de pensar para si mesmos afinal é possível. quem sabe pensem até que eles mesmos podem voltar a andar. seria bom... e de repente imagino todos aqueles velhos a caminhar pela sala com passinhos inseguros mas passos de qualquer maneira passos que os farão caminhar que os farão sentir-se livres agora que voltaram a ser de alguma maneira crianças. e como crianças às vezes discutem e tu para quem falo hoje tu que dás os primeiros passos que eu temia não voltasses a dar perdes a paciência com facilidade e mostras assim o mau feitio e eu nunca fiquei tão feliz por te ver assim irritada... porque afinal minha mãe e minha filha... estás viva e pronta a caminhar de novo.
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