
Mentir, eis o problema: minto de vez em quando ou sempre, por sistema? Se mentir todo dia, erguerei um castelo em alta serrania contra toda escalada, e mais ninguém no mundo me atira seta ervada? Livre estarei, e dentro de mim outra verdade rebrilhará no centro? Ou mentirei apenas no varejo da vida, sem alívio de penas, sem suporte e armadura ante o império dos grandes, frágil, frágil criatura? Pensarei ainda nisto. Por enquanto não sei se me exponho ou resisto, se componho um casulo e nele me agasalho, tornando o resto nulo, ou adiro à suposta verdade contingente que, de verdade, mente. (Carlos Drummond de Andrade) |
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