08 agosto, 2009

quando doer um pouco menos.

curiosamente não me lembro do que senti a primeira vez que vio televisão. nascemos no mesmo ano mas a primeira vez que vi uma televisão foi em casa da avó julieta tinha eu 7 anos e estava de férias na metrópole. para os mais novos convém dizer que era um dos nomes por que era chamado por esses anos este rectângulo lá pelos sítios da minha áfrica. pois é. não me lembro. lembro-me da segunda vez que vim de férias à metrópole de séries como pipi das meias altas ou a feiticeira. mas do que mais me lembro incluindo rábulas inteiras é do zip zip. sentados na sala da avó julieta onde não existia um sofá assistíamos ao programa cada um na cadeira onde tinha acabado de jantar. a avó julieta já tinha levantado a mesa e dos graúdos aos miúdos ali ficávamos à espera do trio maravilha mas sobretudo do Solnado. todas as semanas um programa diferente. todas as semanas a mesma ansiedade frente ao televisor. a avó julieta e a irmã sentadas nos seus tronos não adormeciam como no resto da semana em que dormiam a sono solto frente à televisão e até diziam que tinha sido uma grande invenção pois desde que a tinham dormiam muito melhor. às vezes acordavam com a gargalhada de algum dos espectadores e riam. quando perguntávamos de que riam respondiam sempre que era do programa. que não estavam a ver claro. mas as noites do zipi zip eram diferentes. vai deixar um silêncio muito grande a ausência de Solnado da cena portuguesa. o primeiro homem em portugal a fazer humor non sense sem que alguém se tenha apercebido disso. humor inteligente que só podia ser feito por alguém inteligente. educado generoso solidário irrequieto. hoje perdi uma referência da minha infância. ficou-me um retrato autografado há poucos meses e um cd para ouvir mais tarde. quando me doer um pouco menos.

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