é nesta foto que penso no regresso a casa. não. não sei porquê. é apenas uma casa pintada de verde algures numa rua escusa de santarém num dia de primavera que calhou ser dia da mãe. mas ela vem-me à memória e penso que gostaria de construir um conto a partir desta foto ou melhor da porta e da janela debruadas a branco de uma casa verde algures em santarém como podia ter sido noutro sítio qualquer. a ideia persegue-me. concentro-me no que vou a ler mas no percurso a pé entre duas linhas penso que talvez se amanhã não tivesse que trabalhar começaria a escrever um conto sobre a casa verde de portadas verdes debruadas a branco. e penso que é verão e que não me apetece ir visitar a casa verde. e no entanto sei que precisaria de estar de novo ali naquela rua em frente daquela casa. não sei por quanto tempo. talvez percorresse os poucos metros que a separam da vista sobre o tejo e depois voltasse e me deixasse ficar ali em frente da casa. quem sabe entraria um homem por aquela porta. quem sabe assomaria àquela janela um rosto de criança sorridente. quem sabe lá atrás ouvisse o choro de uma mulher que se despede de um sonho e não sabe que voltas dar à vida. quem sabe as estórias que se escondem atrás daquelas paredes verdes. quem sabe o que se passa por trás daquela porta. quem sabe um dia verei alguém debruçado naquela janela. alguém que me olhe e diga olá como está? não quer entrar por um momento? talvez alguém que me ofereça um café ou um simples copo de água fresca. quem sabe. mas é verão. amanhã é sábado. e eu vou trabalhar. e quem sabe um dia volte a pensar no enredo da casa verde. quem sabe um dia me lembre de voltar a olhar a casa e a rua e então deixe de sentir esta urgência de escrever uma estória sobre uma casa verde com porta e janela debruadas a branco. em santarém. ou em qualquer outro lugar. quem sabe.
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